Título: Oposição vence no Paquistão e deve enfraquecer governo de Musharraf
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Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Internacional, p. A9

As duas principais forças de oposição no Paquistão saíram vitoriosas das eleições parlamentares, derrotando a partido do presidente Pervez Musharraf, o general que desde o fim dos anos 90 impõe uma ditadura militar no país e transformou-se no principal aliado nos EUA na região no combate à rede Al Qaeda e na chamada "guerra ao terror".

O Partido do Povo do Paquistão, da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, cujo assassinato num atentado em dezembro provocou uma onda de apoio à legenda, elegeu a maior bancada do Parlamento, mas não obteve a maioria. O partido do também ex-premiê Nawaz Sharif (derrubado por Musharraf num golpe de Estado em 1999) foi o segundo mais votado. As duas legendas - que no passado foram inimigas políticas - tentarão agora formar uma coalizão, juntamente com outras forças da oposição, o que poderá levar ao fim do governo Musharraf. A apuração prosseguia ontem. Mas o líder do partido do presidente, a Liga Muçulmana do Paquistão, já reconheceu a derrota.

O governo dos EUA avaliou como positivas as eleições e as classificou como uma passo em direção à democracia. Mas, nas palavras do porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tom Casey, Washington "espera que quem quer que venha a se tornar primeiro-ministro seja capaz de trabalhar com ele (Musharraf) e com todos os outros grupos".

"Por ora, a decisão do partido é que não estamos interessados naquelas pessoas que fazem parte e dividem o último governo", disse Asif Ali Zardari, viúvo de Benazir Bhutto, aparentemente deixando uma porta aberta para uma eventual mudança de posição. Sharif, por sua vez, pediu que o atual presidente aceite que não tem mais apoio popular.

Simpatizantes dos setores de oposição fizeram festa nas ruas em diversas cidades do país, comemorando a confirmação da derrota do partido de Musharraf. Mas muitos paquistaneses ainda demonstram grandes reservas aos políticos - Bhutto e Sharif -, associados a escândalos de corrupção e ineficiência nos ano 90.

Analistas afirmam que, caso os partidos vitoriosos consigam costurar uma aliança no Parlamento, Musharraf tem pelo menos duas opções claras: renunciar ou enfrentar um período de guerra aberta com o Legislativo, que tentará derrubá-lo sob acusação de que ele violou a Constituição ao impor um estado de exceção que durou semanas no fim de 2007.