Título: Parece pouco provável que Raúl inicie a abertura
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Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Especial, p. A12

A aposentadoria de Fidel Castro sinaliza menos o início da transição de regime em Cuba e mais o fim de um longo processo de transição de poder dentro do regime. Fidel está passando definitivamente o bastão para ser irmão, Raúl, que deverá ser aclamado presidente no domingo. Tudo indica que o castrismo continuará com Raúl. Não há grande pressão política nem econômica por reformas estruturais no curto prazo.

Raúl vem governando o país há um ano e meio. Quando assumiu, havia a expectativa de reformas. Ele era visto como mais pragmático que Fidel. Mas, à exceção de um processo de debate e autocrítica com a sociedade, nenhum mudança relevante foi adotada.

Obviamente esse foi um período de consolidação do poder de Raúl, com vistas a garantir a estabilidade do regime após Fidel. Mas nada sugere que Raúl, aos 76 anos, vá agora embarcar num processo de reformas, ainda mais enquanto Fidel estiver vivo.

Cuba realizou uma tímida abertura econômica nos anos 90, após o colapso da União Soviética, permitindo, entre outras coisas, a criação de pequenos negócios privados, algumas transações em dólares e a entrada de empresas estrangeiras, especialmente no setor de turismo. Mas, assim que a situação econômica melhorou, nesta década, a maioria dessas reformas foi revogada. E houve ainda um recrudescimento da repressão política. A aversão a reformas parece estar no DNA do castrismo.

Hoje não existe a urgência de reformas econômicas. A economia cresce a um ritmo forte, impulsionada pelo boom de commodities e, principalmente, pela ajuda da Venezuela, do presidente Hugo Chávez. Os benefícios foram distribuídos à população, o que gerou uma forte alta do consumo.

Também não parece haver dissenso político importante. A acomodação do grupo de Fidel no poder, agora sob o comando de Raúl, deve fazer com que a disputa pela sucessão seja adiada. A verdadeira transição em Cuba deve começar somente após o governo de Raúl.

Em regimes fechados, reformistas não costumam alardear suas idéias antes de chegar ao poder. Mas nada, até agora, indica que Raúl Castro vá surpreender.