Título: Economia é dependente da Venezuela
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Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Especial, p. A12

O PIB cubano vem registrando um forte crescimento nos últimos três anos, impulsionado pelo consumo interno e pela construção. Essa tendência deve continuar se a Venezuela prosseguir bancando esses fatores de crescimento com a compra de serviços cubanos e com a ajuda direta feita pelo governo venezuelano.

O próprio Fidel Castro estimou recentemente, em um de seus artigos publicados na imprensa cubana, que a relação coma Venezuela chega a US$ 7 bilhões por ano. Os dois países vem trabalhando de modo cada vez mais próximo desde que Hugo Chávez foi eleito presidente pela primeira vez na Venezuela, em 1998. Os venezuelanos recebem professores, médicos e técnicos esportivos cubanos e Cuba recebe petróleo subsidiado em troca. Com esse alívio proporcionado por Caracas, o setor de construção cubano deu um salto. Em 2006, cresceu 37,7%, contra crescimentos minguados na mineração e na indústria de transformação: 1,9% cada um desses setores no mesmo ano de 2006.

Os críticos lembram que a indústria cubana entrou em colapso com o fim da União Soviética, em 1991, fechando 80% de suas fábricas. A dependência em relação à Venezuela, segundo esses críticos, trazem risco semelhante.

Muitos cubanos esperam que as autoridades adotem medidas para melhorar a qualidade de vida num sistema onde o Estado paga os salários em pesos cubanos e vende produtos importados em uma moeda forte, o peso conversível, que vale 24 vezes mais. Mas não se esperam medidas radicais do provável novo presidente, Raúl Castro, 76. Um militar com imagem de pragmático, ele é tido como um homem mais preocupado em colocar comida na mesa dos cubanos do que em exportar a revolução.

Em dezembro, Raúl concordou, em uma transmissão de TV ao vivo, que o país tem "proibições demais", um sentimento dividido pela maior parte dos cubanos, que precisam de permissão do governo para quase tudo que fazem , desde comprar um carro até trabalhar como engraxate.

Nos últimos três anos, a agricultura e a pecuária despencaram - em 2005, o setor teve uma queda de 11,8% e segue caindo por volta de 6% desde então. Raúl já falou na necessidade de "mudanças estruturais" na agricultura para aumentar a produção.

Para o provável novo presidente cubano, o país estaria aberto a novos investimentos estrangeiros diretos. Desde 2004, quando retrocedeu 0,4% em relação ao PIB, o IED vem caindo. Mesmo assim, não se espera também que Raúl Castro siga o exemplo da China e abra o país para a economia de mercado.