Título: Fidel Castro renuncia e Raúl deve ser o sucessor em Cuba
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Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Especial, p. A12

Após 49 anos no poder, Fidel Castro vai deixar os cargos de presidente e comandante-chefe de Cuba. O anúncio foi feito ontem num texto publicado no jornal oficial "Granma" e atribuído a Fidel. Domingo, o Parlamento elegerá o novo presidente. O favoritíssimo é Raúl Castro, que de fato governa o país desde que seu irmão Fidel se afastou interinamente, por motivo de saúde, em julho de 2005.

Fidel, de 81 anos, assumiu o poder em 1959, com a Revolução Cubana que ele liderou. É o líder que mais tempo governou no mundo século XX. A maioria dos cubanos não conheceu outro governante.

Sua saída de cena tem um forte impacto simbólico. Durante meio século, Fidel foi uma referência para a maioria dos partidos e movimentos políticos de esquerda na América Latina. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ser um admirador da Revolução Cubana e que Fidel é o "único mito vivo da humanidade". Hugo Chávez, presidente da Venezuela, disse que "Fidel não renuncia ou abandona nada, e sim passa a ocupar o posto que deve ocupar na Revolução Cubana e na revolução da América Latina". Mas o fracasso econômico do modelo socialista minou a influência do ditador cubano nas últimas duas décadas.

No comunicado publicado no "Granma", Fidel diz que sua condição física não lhe permite continuar à frente do país. A sua saúde é segredo de Estado em Cuba. Ele não é visto em público desde que se afastou da Presidência para ser operado às pressas de um problema no intestino, até hoje não explicado pelo governo. Os cubanos só o vêem em esporádicos vídeos gravados, o último no início de janeiro. Mas Fidel tem recebido líderes estrangeiros. Este ano, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez estiveram com ele.

A notícia da aposentadoria de Fidel fez os EUA e a União Européia pedirem abertura política e econômica em Cuba. Washington pediu eleições livres. O presidente George Bush pediu que o governo cubano liberte os prisioneiros políticos e comece a "construir as instituições necessárias para a democracia, que eventualmente vão levar a eleições livres e justas". Washington sinalizou que o embargo econômico contra Cuba, que entre outras coisas proíbe empresas americanas de fazer negócios com o país, continuará em vigor até haver uma transição democrática.

Os principais pré-candidatos à Presidência dos EUA também pediram democracia em Cuba e deixaram claro que não deve haver mudança significativa na política americana para a ilha mesmo após a saída do presidente Bush.

Vários países europeus se ofereceram para ajudar num possível processo de transição. A UE congelou relações com Cuba em 2003, depois que Havana prendeu de dezenas de dissidentes.

Apesar disso, não há sinais de que a transição de poder em Cuba vá resultar num processo de abertura econômica e política.

É amplamente esperado que o Parlamento cubano eleja Raúl Castro como novo presidente neste domingo. O presidente Lula deixou claro essa expectativa ontem, ao dizer que Raúl "é preparado, foi foi comandante das Forças Armadas e tem uma visão de mundo importante".

Segundo Fidel, o país estará "em boas mãos" com um governo composto por elementos da "velha guarda" e outros mais jovens.

Além do presidente, o Parlamento deve eleger o Conselho de Estado, de 31 membros. São eles que, de fato, exercem o Poder Legislativo, já que o Parlamento só se reúne poucas vezes por ano.

Castro disse, em seu texto, que não aceitará o cargo de presidente do Conselho de Estado nem o de comandante-chefe, o que na prática o deixará só como membro do Parlamento. Mas alertou que não estava se despedindo do povo cubano e que continuará escrevendo suas colunas no Granma, publicadas sob o título "Reflexões do companheiro Fidel". "Será uma arma a mais do arsenal com que se poderá contar", disse Fidel.

(Com as agências internacionais)