Título: Bosch exporta menos a partir do Brasil
Autor: Facchini, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 20/02/2008, Empresas, p. B9

Carol Carquejeiro/ Valor Michael Traub, presidente para a América Latina, diz que não tem mais esperança de retomar as exportações A partir de 1999, após a desvalorização do Real, as grandes indústrias de linha branca instaladas no Brasil, como alemã Bosch-Siemens (BSH), a americana Whirlpool e a sueca Electrolux, fizeram um grande esforço para transformar as operações locais em plataformas de exportação. Todo este empenho, porém, corre o risco de ir por água abaixo. A valorização do câmbio e a forte retomada na demanda interna já obrigam o setor a rever novamente os seus planos para o país.

"Não temos mais esperanças de retomar as exportações", afirma Michael Traub, presidente da BSH Continental para a América Latina, para quem a realidade cambial do país não irá se alterar tão cedo. O grupo alemão decidiu redesenhar sua produção na região. Em vez do Brasil, agora é o Peru que desponta como a melhor plataforma de exportação para os países andinos. A fábrica peruana exporta 30% do que produz, mas este percentual deve crescer com os investimentos feitos em 2007, de US$ 10 milhões.

No Brasil, ao contrário, as vendas externas atualmente respondem por 20% do faturamento e restringem-se à Argentina. Até 2005, a subsidiária brasileira da BSH exportava 50% da produção.

A Turquia, que possui uma forte indústria de refrigeradores, foi o país que mais ganhou com a queda das vendas externas brasileira. A subsidiária turca hoje abastece uma boa dos mercados que antes eram supridos pelo Brasil, como a África, o Leste Europeu.

Esta situação, no entanto, não é ruim. "Estamos muito otimistas com o Brasil", afirma Jean Dufour, executivo que responde pelas áreas globais de vendas e marketing da BSH. O forte crescimento na demanda interna absorveu toda a produção que a subsidiária deixou de exportar. As margens de lucro no mercado interno são ainda 2 ou 3 pontos percentuais maiores do que as obtidas com as exportações.

A efervescência no mercado imobiliário também é positiva. A BSH estuda fazer parceria no país com construtoras para entregar de apartamentos equipados, algo comum em outros países.

Para elevar a lucratividade, o grupo também fechou sua fábrica de fogões no bairro da Mooca, no meio da cidade de São Paulo, para a sua unidade de Hortolândia, município próximo a Campinas, no interior paulista.

Em 2007, a BSH registrou uma faturamento próximo de R$ 1 bilhão no Brasil. "Nossas vendas cresceram 5%", diz Traub, que considera o número um bom desempenho tendo em vista a forte queda nas exportações no ano passado. Para 2008, o executivo possui uma meta mais audaciosa: a BSH quer elevar as vendas em 20%, acompanhando o crescimento do consumo de eletrodomésticos no país. A participação de mercado do grupo alemão, que comercializa produtos com as marcas Bosch e Continental no país, está em torno de 11%. A empresa ainda está bem atrás da Whirlpool (donas das marcas Brastemp e Consul) e a Electrolux em algumas categorias.

Segundo Doufou, a forte retomada no consumo brasileiro passou a ter um papel importante para o desempenho global do grupo, aliviando a retração em outros mercados. A crise nos Estados Unidos fez com que a demanda por eletrodomésticos no país caísse no ano passado pela primeira vez em dez anos. Em 2007, a BSH faturou ? 8,8 bilhões de euros, valor 6% maior que o obtido em 2006.