Título: Turbulência perdura, mas grãos recuperam boa parte das perdas
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Agronegócios, p. B12

Foi mais um dia de nervosismo e fortes oscilações na bolsa de Chicago. Mas, depois das perdas consideráveis registradas nas sessões de terça e quarta-feira, em meio à turbulência geral nos mercados financeiros mundiais, o pregão de ontem (dia 24) foi de recuperação das cotações de milho, soja e trigo no mercado.

Nem todas as perdas foram revertidas, mas os ganhos observados, ainda que contaminados por fatores técnicos derivados dos tombos anteriores, sinalizaram que os investidores não viraram as costas para as três principais commodities agrícolas globais.

Das três sessões desta semana (na segunda-feira foi feriado nos EUA), quem saiu mais "arranhado" foi o trigo, conforme cálculos do Valor Data baseado nos contratos futuros de segunda posição de entrega, normalmente os que apresentam maior liquidez.

Os papéis do cereal com vencimento em maio registraram alta de 4 centavos de dólar (0,44%) e fecharam a US$ 9,2350 por bushel. A variação negativa acumulada na semana ainda é de 5,52%, mas no ano há ganho de 3,42%, nos últimos 12 meses a alta chega a 92,4% e em 24 meses a valorização atinge 169,05%, a maior entre os três produtos.

Os contratos da soja também para maio subiram 42 centavos de dólar (3,48%) nesta quinta-feira, para US$ 12,49 por bushel, e a baixa semanal caiu para 2,67%. Em 2008, o salto é de 2,86; nos últimos 12 meses, de 70,98%; em dois anos, alcança 114,97%.

No caso do milho, os contratos com o mesmo vencimento registraram alta de 20 centavos de dólar (limite máximo permitido), ou 4,16%, para US$ 5,0125 por bushel. Na semana, o tombo diminuiu para 1,81%. No ano, o salto passou a 7,39%, e voltaram a engordar os ganhos nos últimos 12 (21,52%) e 24 meses (124,52%).

"A situação lá fora continua ruim. Mas, como o governo dos EUA está demonstrando que quer ajudar, a expectativa é de alguma estabilidade ou mesmo melhora do cenário", afirmou Eduardo Bao Zen Tang, analista da corretora Terra Futuros.

Segundo ele, ajudaram o movimento observado a recuperação de outros mercados, como o petróleo - neste caso com reflexos importantes sobre soja em grão, óleo de soja e milho, por causa do etanol. "Quando os mercados como um todo considerarem que o pior já passou, o temor dos fundos em investir em commodities cairá"

Ainda que os fundamentos - dados sobre oferta e demanda, basicamente - estejam de lado neste momento de turbulência financeira, algumas notícias de ontem podem ser consideradas "altistas".

A Coréia do Sul, por exemplo, comprou mais 296 mil toneladas de milho dos EUA. Também foi divulgado que a demanda chinesa por soja cresceu 30%, para 9,124 milhões de toneladas, no último trimestre do ano passado.