Título: Turbulência amplia oportunidades para os fundos de private equity
Autor: Valenti, Graziella ; Júnior, Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Finanças, p. C2

A forte turbulência dos mercados mundiais, que vem assustando os investidores de ações, pode ser boa para os fundos de private equity, que compram participação em empresas. Eles terão mais chances de encontrar boas oportunidades de investimento com preços melhores.

Em 2007, com o grande apetite para aplicações em ações e a elevada liquidez no mercado, estes fundos enfrentaram forte concorrência das bolsas. Muitas companhias preferiam lançar ações ao invés de buscar recursos de private equities. Mas o cenário dá sinais de mudança. Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já somam 25 as ofertas de ações e debêntures adiadas por conta do forte nervosismo do mercado.

"Com aberturas de capital menos freqüentes, as empresas têm menos opções de captação e o private equity fica em condições mais favoráveis para negociar", afirma Álvaro Gonçalves, sócio da gestora Stratus.

Mesmo que o cenário se acalme, a expectativa é que apenas os maiores lançamentos de ações encontrem espaço. Atualmente, somente operações acima de US$ 450 milhões despertam interesse dos estrangeiros - os maiores compradores dos papéis brasileiros. Boa parte das ofertas feitas no ano passado não se concretizaria no momento atual. Mais de 70% das emissões feitas na bolsa ficaram abaixo deste valor.

Além de poder encontrar ativos mais baratos, os fundos estão em condições confortáveis pois tiveram forte captação nos últimos anos. "Os private equities adoram esse cenário", afirma Aristides Jannini, diretor do WestLB. "Eles se capitalizaram bastante antes da crise", afirma Raul Beer, sócio da PricewaterhouseCoopers. Segundo eles, esses fundos já foram grandes compradores no ano passado e devem ser ainda mais ativos este ano.

Só em 2007, nada menos que 77 carteiras pediram autorização à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para captar no Brasil R$ 22,3 bilhões.

Além disso, grandes fundos internacionais, como o Advent e o Blackstone, criaram novas carteiras dedicadas ao país. Só o fundo do Blackstone, formado em parceria com a Pátria Investimentos, será de US$ 675 milhões. Outras grandes gestoras já desembarcaram aqui e ainda não iniciaram de fato as operações, caso da gigante Carlyle. A avaliação da ABVCap (associação destes fundos) é que em comparação a outros emergentes, principalmente China e Índia, os preços das companhias brasileiras estão mais baixos.

As abertura de capital trouxeram liquidez extra ao mercado e contribuíram para a capitalização dos private equity. Em várias operações, muitos controladores se desfizeram de parcela de suas ações e embolsaram milhões. Dinheiro novo que ajudou a irrigar o mercado. As ofertas secundárias renderam R$ 33 bilhões em 2007.

Os fundos de private equity têm perfil de longo prazo. Costumam participar ativamente da administração da empresa, promovendo a profissionalização e o crescimento do negócio. Para só depois vender esta participação com lucro para outro investidor ou no mercado de capitais.

Apesar de se beneficiarem momentaneamente desse cenário mais adverso, os private equities também precisam de um mercado de capitais forte. Boa parte dos desinvestimentos ocorre com a abertura de capital das empresas em que participam. "Mesmo que possamos perder uma ou outra empresa de vez em quando porque vai direto à bolsa, é muito melhor ter o mercado de capitais ativo porque as oportunidades aumentam", afirma Gonçalves, da gestora Stratus.

Os próprios bancos de investimento sempre trabalham com as duas possibilidades, abertura de capital ou a venda direta de parte do negócio. Segundo José Olympio, presidente do banco de investimento do Credit Suisse, dependendo do momento, avalia-se qual a melhor opção. Nos últimos anos, a abertura de capital prevalecia. Agora, um investidor estratégico ou private equity voltam a ser mais atrativos para o empresário que busca recursos.