Título: Emergente atrai fundos soberanos
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Finanças, p. C4
Daniel Acker / Bloomberg News Bader Al-Sa'ad, gerente do KIA: "Por que manter o mesmo volume de investimentos numa economia que está crescendo 1% quando podemos fazer isso em outra que cresce 5 ou 7%?" Os poderosos fundos soberanos, que estão investindo dezenas de bilhões de dólares nos países ricos, vão colocar cada vez mais dinheiro nas economias emergentes, pelo que fica claro no Fórum Mundial de Economia. Em conversa com o Valor, Bader Al-Sa'ad, gerente do Kuwait Investment Authority (KIA), indagou: ''Por que manter o mesmo volume de investimentos numa economia que está crescendo 1% quando podemos fazer isso em outra que cresce 5 ou 7%''?
O fundo do governo do Kuwait é estimado em US$ 300 bilhões. Entre 5% e 10% de seu portfólio está em economias emergentes e o aumento é inevitável, segundo Al-Sa'ad. O executivo não precisou o montante aplicado no Brasil, porque o volume de US$ 15 bilhões a US$ 30 bilhões nos emergentes varia de acordo com o MSCI Emerging Markets Index, que mede o desempenho dos mercados de ações de 25 países e é reajustado a cada trimestre.
Richard Fuld, chefe executivo do Lehman Brothers, disse ao Valor que esses fundos vão tomar cada vez mais o rumo de economias emergentes por duas razões: eles têm muito dinheiro e essas economias representam 30% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 15% do mercado de capitais.
O fundo soberano da Noruega, de mais de US$ 400 bilhões, tem 1% de seu portfólio em ações aplicado em empresas brasileiras, através de compras nas bolsas de Nova York e Londres, principalmente.
Um importante banqueiro europeu, sediado em Londres e que se ocupa em parte de investimentos de fundos soberanos, disse que a China, com fundo de US$ 200 bilhões, tem "enorme interesse" no Brasil "e a motivação é rendimento, não política".
Globalmente, estima-se que os Sovereign Wealth Fnds (SWFs) administram entre US$ 2,5 trilhões e US$ 3 trilhões, com cinco países controlando 70% desse total, com o dinheiro vindo do petróleo. Até 2015, os fundos soberanos podem acumular capital de US$ 12 trilhões, representando quase 10% de todos os ativos financeiros do planeta. Seus investimentos recentes em bancos e empresas americanas afetadas pela turbulência financeira começam a causar reações em Washington.
Cresce a suspeita de que esses fundos investem mais por razões políticas do que econômicas, ganhando controle de firmas importantes para a segurança nacional. Fundos da Ásia e Oriente Médio recentemente injetaram cerca de US$ 60 bilhões em bancos americanos e europeus, abocanhando uma parte deles em plena fragilidade.
No Fórum Mundial de Economia, os SWF estão no centro da agenda. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos ampliou pressões para que esses investimentos sejam mais transparentes. David McCormick, subsecretário de Tesouro, manteve conversações com representantes dos fundos da Ásia e do Golfo. Deixou claro que a prioridade é que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estabeleça um código de conduta sobre esses investimentos, e isso rapidamente.
Representantes dos fundos soberanos aproveitaram Davos para rejeitar as demandas por mais transparência. Bader Al-Sa'ad, do Kuwait, insistiu que os temores "não têm sentido", argumentando que seu fundo existe há 50 anos e tem uma duradoura participação em empresas como o construtor alemão Daimler e o grupo petroleiro britânico BP.
"É colocar a carro na frente dos bois", observou Muhammad al-Jasser, vice-governador da Agência Monetária da Arábia Saudita, banco central do país, em grupo de discussões no Fórum Econômico Mundial. "Estamos criando um testa-de-ferro?"
Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, que também participou do grupo de discussões, afirmou que os fundos geram dúvidas sobre sua governança corporativa e possível abuso de sua influência política, entre outras questões.
"Parece que não gostam de nós, mas precisam de nosso dinheiro", afirmou o ministra das Finanças da Noruega, Kristin Halvorsen. "Seria proveitoso se pudéssemos acertar um código de práticas."
O fundo soberano norueguês responde ao Parlamento, que fiscaliza as diretrizes de investimento do fundo a cada ano, segundo Halvorsen. O fundo também divulga seus investimentos e participações na internet. (Com agências internacionais)