Título: Lula faz alerta sobre endividamento fácil
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2008, Finanças, p. C4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a cerimônia de comemoração dos 85 anos da Previdência Social para fazer um alerta sobre os riscos de endividamento via crédito fácil. O presidente lembrou que a crise de crédito americana tem relação com o uso de cartões de crédito. "Se a gente não tem que botar a mão no bolso para gastar o dinheiro, a gente vai gastando mais do que se tivesse que tirar uma notinha do bolso", afirmou.

Lula ordenou o ministro da Previdência, Luiz Marinho, a dar uma boa explicação sobre essa questão aos aposentados. Nos últimos anos, milhões de aposentados e pensionistas tiveram acesso ao crédito consignado. "Os aposentados conquistaram cartão de crédito e alongaram o crédito consignado para 60 meses", destacou. Dados do Banco Central mostram que o crédito consignado cresceu 32,8% nos 11 primeiros meses de 2007, passando de R$ 48,149 bilhões para R$ 63,993 bilhões.

Em números gerais - sem envolver apenas o consignado - o crédito subiu de 30,7% para 34,3% do PIB entre dezembro/06 e novembro/07. Em termos reais, o volume de crédito subiu 24% nos 11 primeiros meses de 2007, passando de R$ 732,590 bilhões para R$ 908,775 bilhões. Apesar do aumento no volume do crédito, a inadimplência não chega a ser, por enquanto, motivos de preocupação. No caso dos empréstimos às pessoas físicas, recuou de 7,6% para 7,1% dos empréstimos livres (com juros livremente pactuados pelo mercado). As estatísticas do BC não discriminam os empréstimos consignados do INSS. Os dados da previdência dizem que a carteira ativa de empréstimos era de R$ 21,904 bilhões em outubro de 2007.

A crise americana também foi mencionada no telefonema do primeiro-ministro britânico Gordon Brown para Lula, no meio da manhã. Na conversa, que durou aproximadamente 15 minutos, o presidente brasileiro expressou a Gordon Brown "a preocupação de que a crise não atinja as conquistas realizadas pela América Latina no desenvolvimento econômico e social", segundo relato do porta-voz, Marcelo Baumbach.

De acordo com Baumbach, o presidente Lula está empenhado em evitar repercussões negativas para a América Latina. Brown demonstrou, segundo Baumbach, preocupação com os desdobramentos da crise e mencionou que pretende, em algum momento, propor a criação de "um corpo internacional encarregado de monitorar esse tipo de crise para poder dar alertas antecipados, os chamados early warnings, a respeito desse tipo de crise".

A Rodada Doha foi outro assunto que motivou a conversa entre os dois governantes. "Brown expressou interesse na área de produtos industrializados e falou das oportunidades de esforço adicional por parte do Brasil nesta frente de negociação. O presidente Lula afirmou que o Brasil continua engajado no esforço de uma rápida conclusão da rodada de Doha", disse Baumbach.