Título: Presidente delega a Lobão escolha de titular da Eletrobrás
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2008, Política, p. A11

Cansado da disputa entre o senador José Sarney (PMDB-AP) e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff pela presidência da Eletrobrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu transferir para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a tarefa de escolher quem presidirá a principal estatal do setor elétrico. Em reunião na manhã de ontem no Palácio do Planalto, Lula avisou: "Você vai ter autonomia para nomear quem quiser, a responsabilidade é sua". Com isso, é quase certo que o indicado será José Antônio Muniz Lopes, afilhado de Sarney.

A disputa entre o senador e a ministra se arrasta há quase um mês. Lula já havia avisado que nomearia Lobão para o cargo de ministro - atendendo a indicação do PMDB do Senado - mas que não se envolveria na disputa pelos demais cargos. Mas a presidência da Eletrobrás empacou e impediu todas as demais nomeações. Dilma defende o nome do ex-presidente da Eletronuclear, Flávio Decat, enquanto Sarney, depois de indicar Evandro Coura, passou a apoiar o nome de José Antônio, ex-presidente da Eletronorte.

Cauteloso, Lobão levou os dois nomes em aberto ao presidente. Na semana passada, um encontro no Planalto adiou a decisão para essa semana. Na noite de segunda-feira, Lula teria dito ao ministro de Minas e Energia que ambos conversariam sobre o tema durante a viagem para o Espírito Santo, onde Lula visitou o gasoduto Cabiúnas-Vitória. Um novo encontro, a princípio para fechar as pendências, foi marcado para a manhã de ontem. Lula avisou a Lobão: "O que você decidir está decidido. A Pasta é sua, a responsabilidade também".

Lobão entendeu o recado, gostou do que ouviu e deixou o encontro avisando que "na semana que vem, com segurança, terá os nomes definidos para o setor elétrico". O ministro viaja com o presidente Lula para a Argentina para debater sobre gás com Cristina Kirchner e Evo Morales. Na volta, vai tomar a decisão. Essa é a principal sinalização de que José Antônio deve ser o indicado. Será um tempo para que o ex-presidente da Eletronorte se desvencilhe de alguns impedimentos judiciais.

Segundo integrantes do governo, Decat não tem nenhuma restrição legal contra ele, mas José Antônio responderia a uma ação movida por inimigos no Maranhão na época em que foi diretor-presidente da Eletronorte. Uma liderança pemedebista tentou minimizar o problema, alegando que era uma "simples multa de R$ 3 mil que José Antônio havia recorrido".

Pessoas que acompanham a novela da sucessão da Eletrobrás admitem que tanto Dilma quanto Sarney já demonstram cansaço com o impasse. Dilma teria concordado com a escolha de José Antônio e Sarney, contrariado por ter que, a todo momento, justificar seu apetite por cargos no setor elétrico, resolveu tirar uma licença de quatro meses para escrever seu livro de memórias. "Nada demais, pois, lá de sua ilha, em Curupu, no Maranhão, Sarney dá um telefonema para Lula e tudo se resolve", disse um aliado.