Título: PSDB terá postura mais flexível que o PT na política de alianças municipais
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2008, Política, p. A11

Ao contrário do PT, que cogita proibir coligações com os tucanos nas eleições municipais de outubro, o PSDB pretende ser mais flexível ao definir a política de alianças do partido. O exemplo mais significativo é o de Belo Horizonte (MG), onde o governador mineiro, Aécio Neves, costura abertamente um entendimento eleitoral com o prefeito petista Fernando Pimentel.

"Trata-se de um processo especial", diz o novo presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, ao referir-se à eleição para a prefeitura da capital de Minas Gerais. Os tucanos pretendem ser flexíveis, mas isso não significa que a porteira esteja aberta a todo tipo de aliança com o PT. Os tucanos fizeram uma avaliação da situação eleitoral do partido nos 26 Estados, na noite de terça-feira, e o que viram não chega a ser muito animador.

Nas eleições de 2004, o PSDB elegeu cinco prefeitos de capital, entre eles José Serra para o comando da maior prefeitura do país, São Paulo. Após quatro anos, um deles trocou de partido (Dario Berger, de Florianópolis), e Serra renunciou ao cargo para disputar o governo de São Paulo, deixando o partido reduzido a três prefeitos: Beto Richa (Curitiba), Silvio Mendes (Teresina) e Wilson Santos (Cuiabá).

Para 2008, o PSDB pretende eleger pelo menos 10% de prefeitos a mais em relação a 2004. Mas a expectativa nas capitais, no momento, não é muito diferente: a reeleição de Beto Richa, em Curitiba, e Wilson Santos, em Cuiabá, a eleição de São Luiz (João Castelo), Natal (Geraldo Melo) e Salvador (Antonio Imbassahy). Mas, fundamental para os tucanos, é reassumir a Prefeitura de São Paulo, o que significa eleger Geraldo Alckmin para o lugar hoje ocupado por Gilberto Kassab (DEM).

A idéia da candidatura própria em São Paulo se tornou majoritária no PSDB, segundo a avaliação da cúpula tucana. O favoritismo de Geraldo Alckmin nas pesquisas é tanto que o próprio governador José Serra não terá como insistir na manutenção da aliança com o DEM. Segundo boa parte da cúpula do PSDB, a eleição de Alckmin mais favorece que prejudica a candidatura de José Serra a presidente da República, em 2010, ao contrário do que dizem os analistas.

Para ser um candidato competitivo, além de articular uma boa aliança com Aécio Neves em Minas Gerais, Serra precisará entrar na disputa com São Paulo unido em torno de sua candidatura. Por isso existe a expectativa na cúpula tucana de que Serra, num primeiro momento, possa até se limitar a um apoio formal a Geraldo Alckmin, mas na campanha acabará tendo uma participação mais efetiva.

Serra, nas discussões feitas pelos tucanos, é hoje considerado o candidato mais forte do partido para disputar a eleição contra o candidato a ser apontado pelo governo. Os tucanos duvidam que ele seja Ciro Gomes (PSB), calculam que o ministro do Bolsa Família, Patrus Ananias, possa provocar algum estrago em Minas Gerais, mas trabalham com a informação de que o candidato de Lula já está escolhido. É Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil.

Nesse quadro, uma frase comum e recorrente na Executiva Nacional é que "Serra já está eleito". Na cúpula do PSDB existe também a avaliação de que Aécio Neves pode realmente apoiar a candidatura de José Serra a presidente da República, pois para se tornar um candidato viável e com potencial eleitoral ao menos parecido com o de Serra, nacionalmente, precisaria de pelo menos um ano de trabalho.

A direção do PSDB leva a sério uma pré-candidatura já lançada: a do senador Arthur Virgílio (AM), que efetivamente passou a trabalhar seu nome dentro do partido. Virgílio passou a se entusiasmar com a idéia depois que comandou uma rebelião dentro do PSDB que terminou com a derrubada da CPMF, o chamado imposto do cheque. A caixa de mensagens do senador na internet ficou abarrotada de palavras de apoio. Irritado com a atuação de Aécio e Serra em favor da CPMF, Virgílio, à época, disse: "O Serra e aquele paquerador de misses vão ver só".