Título: Investigação da Receita dificultará votações
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2008, Política, p. A11

O PSDB acredita que o governo está por trás do vazamento de dados parciais de uma investigação da Receita Federal nas contas do partido, o que deve dificultar ainda mais qualquer entendimento, este ano, entre oposição e governo. A reforma tributária, cujo texto o Palácio do Planalto deve apresentar hoje aos líderes governistas, só tem chance de ser aprovada, se houver entendimento entre as bancadas do governo e da oposição.

Numa conversa com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, disse que era essencial o governo descobrir logo "o responsável pelo vazamento", para que a confiança voltasse nas relações entre PSDB e governo, já bastante abaladas com o episódio da votação da CPMF, quando os tucanos se comprometeram votar a favor e mudar de idéia.

Tão logo o relatório da Receita Federal foi publicado pelo jornal "Folha de S. Paulo", Mantega e o secretário da Receita, Jorge Rachid, telefonaram para Guerra. O presidente do PSDB disse a Rachid que o advertira sobre a possibilidade do vazamento, numa conversa que tiveram ano passado. À época, Rachid disse que isso era impossível de ocorrer porque o acesso à investigação nos partidos era restrito a poucas pessoas.

"Fui ao Rachid com o Eduardo Jorge (Secretaria Geral do PSDB). Disse que ao botarem a oposição, já tinham politizado. E avisei que ia vazar. Ele disse que absolutamente não", contou Sérgio Guerra ao Valor.

O PSDB já entendera a própria investigação como uma manobra política. Ela foi iniciada depois que a Receita decidiu estender ao PMDB e ao DEM uma investigação nas contas do pedida pelo então senador José Jorge, quando surgiu a denúncia do pagamento do mensalão. Agora, acharam mais que suspeito o fato de o vazamento ocorrer justamente quando apareceram as denúncias sobre o uso abusivo dos cartões corporativos do governo federal.

"É sempre assim, quando o PT é apanhado em alguma travessura: nós fazemos, mas os tucanos também fazem", protestou Sérgio Guerra. Segundo o presidente do PSDB, inconsistências verificadas nas contas do PSDB nem de longe se comparam ao mensalão, e o que foi publicado na imprensa refere-se a um primeiro relatório da Receita, contestado em sua maior parte pelo partido.

Guido Mantega não conseguiu encontrar Sérgio Guerra no primeiro telefonema. Falaram bem mais tarde. O senador fez um resumo do descontentamento tucano ao ministro: "Vazaram o relatório velho, sem a defesa do partido, que a receita aceitou", disse. Além disso, Guerra disse considerar suspeito "vazar só a investigação do PSDB; o PT tem um passivo infinitamente maior, coisa de R$ 53 milhões".

Por fim, Guerra chamou atenção para o fato de o vazamento se referir à campanha presidencial de José Serra, em 2002, quando na realidade se referia a despesas de pré-campanha realizadas pelo PSDB. "Falei (para Guido Mantega) que enquanto não corrigissem tudo não esperassem nada", disse Sérgio Guerra. Para o presidente do PSDB, este é "o pior momento na relação governo-oposição. Está se agravando em termos reais". (RC)