Título: Consumo e agricultura puxam expansão argentina
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2008, Internacional, p. A17

A economia argentina cresceu 9,7% em dezembro de 2007 levando o Produto Interno Bruto (PIB) do país a 8,7% de alta acumulada no ano. É o quinto ano consecutivo de expansão acima dos 8% depois da brutal queda de 10,9% em 2002 em meio à crise. Os dados, divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), referem-se ao Estimador Mensal da Atividade Econômica (Emae), um indicador prévio ao PIB (que é divulgado trimestralmente).

O índice de dezembro ficou 2,3 pontos percentuais acima de dezembro de 2006 e foi o maior para o mês desde 2002. Comparado a novembro, a alta foi de 0,6 ponto.

O consumo, a agricultura, o setor financeiro e as indústria automobilística e de turismo foram os setores que mais impulsionaram a atividade econômica, ao avançar de 20% a 30% no ano. Já a construção civil registrou forte desaceleração, ao crescer apenas 6,4%. Até 2006 a construção e o setor financeiro eram os que mais cresciam no país, com mais de 40% de expansão anual. O Emae poderia até ser maior se as empresas agrícolas e as indústrias em geral não tivessem parado de produzir por um longo período no inverno por conta do racionamento de energia.

O Indec perdeu muito de sua credibilidade depois de uma intervenção velada do ex-presidente Néstor Kirchner há um ano, que afetou principalmente o índice de inflação nacional (IPC). Apesar disso, os dados da atividade econômica divulgados ontem não foram tão diferentes do que previam analistas independentes, ao contrário do que acontece com o IPC.

A Fundação Fiel, que reúne economistas críticos da política econômica do casal Kirchner, elabora seu próprio indicador de atividade industrial. Os cálculos da entidade para o PIB coincidem com os do governo: crescimento de 8,7% em 2007. Segundo a Fiel, no mês passado a indústria cresceu 12,9%.

Mas alguns economistas dizem que o PIB pode ser ligeiramente inferior ao dado oficial, algo como 0,5 ponto de diferença. É que, embora o PIB seja um indicador de quantidades produzidas, alguns itens que compõem o cálculo do produto são deflacionados pelo índice oficial de preços, no qual ninguém crê. Para um IPC de 8,5% oficial em 2007, divulgado pelo Indec, analistas privados acreditam que a inflação real passou de 20%.

"O valor das quantidades produzidas é corrigido por um deflator que antes coincidia com o IPC", diz o economista Frederico Marongio, do Centro de Implementação de Políticas Públicas para o Crescimento (Cippec). Segundo ele, o Indec não divulga o deflator, mas pelos cálculos do Cippec a diferença não seria tanta. Em vez dos 8,7% oficiais, o índice calculado com base na inflação real não ficaria abaixo de 8,3% ou 8,4%.

Para o economista Roberto Frenkel, do Centro de Estudos de Estado e Sociedade, o setor que pode estar com dados mais distorcidos pela diferença entre o IPC real e o oficial é o financeiro. É que a correção dos estoques de financiamento por uma inflação abaixo da verdadeira faz com que eles pareçam avançar mais do que a realidade. Mas, para Frenkel, como o setor financeiro argentino é ainda muito pequeno (o crédito não passa de 10% do PIB), uma superestimação da atividade não causa grande diferença no resultado final do produto nacional.