Título: Braskem busca recuperar valor das ações
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2008, Empresas, p. B8

Quase um ano depois de comprar os ativos do grupo Ipiranga, a Braskem, cujos papéis foram afetados pelas fortes altas do petróleo e seus derivados, está empenhada em recuperar o valor de suas ações. Ao mesmo tempo, a Ultrapar, que também adquiriu parte dos ativos da Ipiranga, anunciou a migração para o nível 2 da Bovespa, o que pode ajudar a elevar a liquidez dos papéis a longo prazo.

A petroquímica, que teve lucro líquido de R$ 27 milhões no quarto trimestre de 2007, queda de 66%, propôs um programa de R$ 250 milhões para recompra de ações preferenciais, o equivalente a quase 10% das ações em circulação no mercado. "Há um grande potencial de sinergias a serem capturadas com a Ipiranga", diz o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich. "Isso não está refletindo no valor das ações."

Depois do anúncio do programa de recompra e com a divulgação dos resultados, as ações da Braskem subiram 5,78%, a segunda maior alta do Bovespa. A queda no lucro também se deveu às despesas não-recorrentes com a incorporação da Ipiranga. "Foi um quarto trimestre atípico", afirmou Grubisich. Os papéis da petroquímica continuam sendo negociados com desvalorização de 7,27% nos últimos 12 meses. Parte expressiva da desvalorização das ações se deu depois de agosto, quando o preço do petróleo no mercado internacional disparou.

A Ultrapar, que recebeu recomendação de compra pelos bancos Itaú, Credit Suisse, UBS Pactual e Citigroup nos últimos dias, teve valorização de 3,79% ontem na Bovespa. Apesar da recuperação, os papéis da companhia, que atua na área química, logística, distribuição de GLP e incorporou os ativos de distribuição de combustíveis da Ipiranga, continuam com valorização inferior ao pico do segundo semestre de 2007.

Com a entrada no nível 2, a Ultrapar adere à câmara de arbitragem para resolução de eventuais conflitos e dá alguns direitos aos acionistas preferencialistas. "De modo geral, as ações neste patamar são mais valorizadas", explica o diretor financeiro da Ultrapar, André Covre. Lembrou que as ações ingressaram recentemente no índice Bovespa e o volume diário negociado subiu de R$ 13 milhões para R$ 35 milhões depois da incorporação dos acionistas da Ipiranga. "O resultado é mais do que soma das partes", afirmou Covre. No futuro, a empresa vê a adesão ao Novo Mercado, que elimina a diferença entre ações ordinárias e preferenciais, como uma evolução natural. A Ultrapar teve lucro de 83 milhões no quarto trimestre, alta de 71% sobre igual perído de 2006. A geração de caixa cresceu 91%, para R$ 221 milhões. A empresa projeta investimentos de R$ 839 milhões para 2008.

Por conta da nafta, as empresas estão sofrendo forte impacto de custos. No caso da Braskem, o impacto das matérias-primas representou custos de R$ 335 milhões no quarto trimestre. Mesmo assim, a petroquímica, em termos operacionais, teve um desempenho favorável. A empresa teve volume de vendas no quarto trimestre semelhantes aos terceiro trimestre, sazonalmente os mais aquecidos para o setor. Em um ano, elas cresceram 32%, por conta da demanda doméstica. Para 2008, a Braskem projeta expansão de 8% a 10% nas vendas de resinas plásticas, puxada pelo crescimento da economia brasileira. Grubisich diz que existe uma tendência de queda nos preços da nafta, mas evitou fazer projeções. A petroquímica prevê R$ 1,3 bilhão em investimento, valor equivalente ao de 2007, excluída a compra da Ipiranga.