Título: Inflação de alimentos foi causada por choque de demanda, diz estudo
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2008, Brasil, p. A8

Um estudo realizado pelo Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta - pela primeira vez - que a forte inflação de alimentos apurada em 2007 foi provocada por um choque de demanda, e não apenas por problemas de oferta. O fenômeno foi observado em carne bovina (que subiu 22,15%), carne de frango (16,17%), ovos (26,05%), leite (19,79%), feijão carioca (144,4%), leite (19,79%). Foi superior a 70% a contribuição desses itens para o grupo alimentação e bebidas do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que variou 10,79%, acima da inflação geral, de 4,46%.

"A expansão de 7% na renda e o aumento dos postos de trabalho fez aumentar a demanda nas classes mais baixas, principalmente de produtos mais baratos, como leite, frango e feijão", afirma Benedito da Silva Ferreira, diretor do departamento de agronegócio da Fiesp. Para ele, essa expansão de demanda em carne bovina e feijão não foi atendida pelo mercado, devido a problemas de produção, e por isso esses produtos tiveram valorização mais significativa de preços.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que, em 2007, o consumo de alguns itens que compõem a cesta de inflação cresceu mais que ano anterior. É o caso da soja em grão, cujo consumo no país aumentou 9,1%, contra queda de 5,1% no ano anterior, milho (9,2% de alta, ante queda de 5,4% em 2006), farelo de soja 10,4%, contra 7,5% no ano anterior - os três itens compõem as cestas de inflação e são usados como insumos para a produção de rações para aves e suínos.

Um levantamento da consultoria Safras&Mercado revela que o consumo de carnes no país aumentou 3,8% em 2007, para 22,5 milhões de toneladas. O consumo de frango foi o que mais cresceu, 9,8%, passando de um consumo per capita/ano de 36,3 quilos para 38,2 quilos. O consumo per capital de carne suína passou de 12,2 quilos para 12,3 quilos por pessoa ao ano. E o consumo per capita de carne bovina caiu de 88,1 para 88,8 quilos, embora a demanda total tenha tido incremento 0,6%, para 16,2 milhões de toneladas.

"No geral, houve aumento da demanda, o que justifica a alta de preços, mas não se pode dizer que houve um choque. A demanda apenas cresceu", afirma Paulo Molinari, analista da Safras. Para este ano, ele prevê manutenção do consumo per capita de carne bovina e elevação de 3% em carne de frango, para 39,3 quilos per capita, e de 2% em carne suína, para 12,5 quilos.

Fábio Silveira, sócio da RC Consultores observa que, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas de hipermercados, supermercados e alimentos cresceu 6,8% em 2007, mesmo índice apresentado no ano anterior.

Já em receita nominal, segundo o IBGE, o aumento das vendas nofoi de 13,2%, contra 6,7% no ano anterior. "O volume de vendas só não cresceu mais porque não havia produto disponível para atender à demanda", diz Antonio Carlos Costa, gerente do departamento do agronegócio da Fiesp. Ele observa que 75% da carne bovina produzida no país é destinada ao mercado interno. "Pressão de demanda influencia no preço, sim", reitera.

Para este ano, a expectativa é de que a relação entre oferta e demanda seja mais tranqüila, dadas as projeções de aumento na produção de alimentos superior à estimativa de incremento da demanda interna. "Se não houver quebra de safra, a situação será tranqüila", diz Costa. A RC prevê para as vendas de supermercados incremento de 6,5%, ante 6,8% em 2007.