Título: Carlyle inicia investimentos no Brasil
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2008, Empresas, p. B1

Depois de quase um ano estudando o mercado imobiliário brasileiro, o grupo de private equity Carlyle, com ativos globais de mais de US$ 75 bilhões, se prepara para desengavetar seus projetos de investimentos no país, que devem consumir quase R$ 500 milhões nos próximos 18 meses. A companhia acabou de fechar uma parceria com o grupo Fibra , controlado pela família Steinbruch, para construir um novo edifício de escritórios no coração do centro do Rio, na esquina das ruas São Bento e Acre, quase esquina com a Avenida Rio Branco.

Este será o primeiro empreendimento imobiliário em que o Carlyle investe no Brasil. No ano passado, a companhia comprou, por US$ 70 milhões, participação relevante na Scopel, uma empresa especializada em condomínios residenciais. "Mas aquela foi uma exceção, atuaremos basicamente no desenvolvimento de projetos imobiliários, em especial os residenciais e shopping centers", afirma Eduardo Machado, presidente da divisão de "real estate" (imóveis) do grupo para a América Latina.

O foco da Carlyle será, mesmo, em empreendimentos como este que acaba de fechar com o Fibra. Quer ser o principal investidor capitalista em projetos que sejam desenvolvidos desde a concepção. No caso da parceria com o Fibra, o Carlyle será dono de 90% do negócio. O parceiro vai desenvolver o projeto, gerenciar as obras e entrar com 10% do investimento total.

"Este modelo, salvo exceções, deve pautar toda a estratégia dos investimentos imobiliários do grupo na América Latina, em especial no Brasil. Raros serão os casos em que o Carlyle irá adquirir ativos já prontos", afirma Machado, sem revelar o quanto investirá no projeto carioca que deve ter as obras iniciadas ainda este ano.

Apesar de estarem na lista de investimentos potenciais do Carlyle, os prédios de escritórios não serão uma prioridade para o grupo. Os investimentos estarão mais concentrados no segmento residencial, principalmente àquele voltado para a classe média de grandes cidades brasileiras. Assim como fez com o Fibra, o grupo pretende se tornar o acionista majoritário nos projetos em que entrar e ter um sócio para executá-lo. "Vamos buscar empresas de médio porte, que não estão capitalizadas, para fazermos essas parcerias", diz Machado. "As grandes têm liquidez e não estão precisando de capital nesse momento", diz.

Shopping centers e imóveis comerciais também devem absorver uma boa parcela dos cerca de R$ 500 milhões que o grupo quer investir no Brasil nos próximos 18 meses. De acordo com Machado, a idéia é seguir o modelo de ser o principal sócio capitalista nos projetos. "A área comercial e a área residencial vão consumir mais de 50% de nossos investimentos no próximo ano e meio, eles serão nosso principal foco no Brasil", afirma o executivo.

O Carlyle também quer atuar no segmento de imóveis industriais e condomínios logísticos. O prazo de maturação desses investimentos vai variar de três a cinco anos. "Teremos imóveis de renda, não pretendemos apenas construir e vender. Vamos ter ativos em nosso portfólio. A saída dos investimentos não será imediata."

Essa é a primeira investida consistente do Grupo Carlyle no segmento imobiliário da América Latina e, principalmente, no Brasil. O segmento de investimentos em imóveis do grupo está concentrado nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Hoje a divisão de imóveis (real estate) do Carlyle gerencia quase US$ 10 bilhões em ativos nesses mercados. Os US$ 500 milhões que serão destinados à América Latina representam muito pouco nesse universo, mas Machado acredita que a tendência é de que os investimentos cresçam a médio prazo. "O potencial de crescimento dos principais mercados do continente é muito grande e ainda há muita liquidez", diz o executivo, que saiu do grupo Fibra antes de ir para o Carlyle.