Título: Petrobras lucra com gás no Uruguai
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2008, Empresas, p. B10

Foi uma boa surpresa. Em junho de 2006, a Petrobras adquiriu o controle da Gaseba, empresa que detém o monopólio de distribuição de gás natural em Montevidéu, capital do Uruguai. Desde o início o objetivo era obter retorno no longo prazo. Privatizada em 1995, a empresa nunca havia dado lucro desde então e vivia um processo avançado de sucateamento, das instalações aos equipamentos, e uma conturbada luta sindical sem fim. No balanço do final do ano passado, a estatal brasileira foi surpreendida por um lucro de US$ 1,7 milhão, algo que não era esperado antes de quatro anos.

O resultado teve importante contribuição da valorização do peso uruguaio em relação à moeda americana, mas o brasileiro Augusto Riezemberg Neto, gerente-geral da empresa, rebatizada de MontevideoGas, diz que o número é também conseqüência de uma série de medidas de saneamento tomadas desde a aquisição. Uma das primeiras foi a renegociação da dívida de US$ 16 milhões, quase toda de curto prazo.

"Tomamos mais US$ 1 milhão e renegociamos os US$ 17 milhões, a juros mais baixos, para pagamento em sete anos, sendo três de carência". Outra providência foi trocar a frota de veículos por equipamentos novos e mais econômicos e a troca das instalações físicas da empresa que estavam em estado "lamentável". Com os empregados e sua representação sindical, segundo Riezemberg, foram feitas mais de 150 reuniões, resultando em uma "melhoria considerável" do relacionamento.

Paralelamente, a empresa começou a investir na troca dos 50% da sua tubulação (300 quilômetros), que ainda eram de ferro fundido, por tubos de polietileno. No ano passado foram trocados 53 quilômetros, com investimento de US$ 3 milhões feito com recursos próprios. Para o restante da obra, prevista para terminar em julho de 2009, foi contratado um empréstimo de US$ 7 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outros US$ 9 milhões virão de recursos próprios, totalizando US$ 19 milhões de investimentos na troca da tubulação.

"Até por conta desses investimentos, a expectativa é de que o lucro de 2007 não se repita nos próximos anos. Mas daqui a quatro anos ela deverá operar no azul com tranqüilidade", diz. Segundo Riezember, no plano comercial, a MontevideoGas está investindo na troca de caldeiras de edifícios que têm aquecimento central e no fornecimento a prédios novos, já que na capital uruguaia a cultura mais difundida é do uso do GLP (gás de botijão) no fogão e da energia elétrica para o aquecimento de água, ainda que o custo da eletricidade seja maior do que o do gás. A empresa detém apenas 10% do mercado de gás para cozimento e 3% do de água quente.

Fundada no século XIX, a atual MontevideoGas foi vendida pelo governo uruguaio em 1995 para a Gas de France. Atualmente os acionistas são a Petrobras (66%) e a Pan American Energy (34%). Ela atende a 45 mil clientes residenciais e a apenas cinco clientes industriais. Na aquisição das ações - primeiro 51% e, depois, um bloco adicional de ações - a Petrobras investiu US$ 15 milhões.

O gás é fornecido pela Argentina, por meio de gasoduto. Por causa da crise energética do Cone Sul, por duas vezes desde que a Petrobras assumiu a gestão a empresa teve o fornecimento de gás interrompido na ponta, mas os estoques médios de 7 dias nas tubulações impediram que o problema chegasse aos clientes. Os clientes industriais, porém, que rotineiramente levam 30 mil metros cúbicos de gás por dia, contra 120 mil dos residenciais e comerciais, têm ficado sem gás no inverno, quando o consumo residencial/comercial sobe para 240 mil metros cúbicos/dia e os argentinos têm limitação de fornecimento.