Título: Contra a concorrência, a saída é agregar valor
Autor: Jurgenfeld, Vanessa; Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2008, Agronegócios, p. B16

Para enfrentar os concorrentes importados, a indústria de pescados no Brasil começa a se sofisticar. Além das postas congeladas, os fabricantes estão elaborando pratos prontos à base de peixes e frutos do mar, como paella, moqueca e bolinho de bacalhau.

"Para sobreviver aos chineses, a estratégia é sair do beabá", diz Attílio Leardini, presidente da catarinense Leardini Pescados. A empresa lançou no fim de 2007 três pratos prontos (moqueca, paella e risoto), além de uma linha gourmet que traz itens como lula congelada já em anéis, filé de salmão e filé de linguado sem pele congelado. Segundo Attílio, a expectativa é lançar de dois a três produtos desse tipo por ano. "Daqui a dois meses vamos colocar no mercado mais três tipos de pratos prontos".

Até o segundo semestre deste ano, a Netuno Alimentos, empresa pernambucana de pescados, colocará à venda produtos semi-prontos, como filés de peixe temperados com ervas finas, açafrão e pimenta, além de empanados. "Constatamos que as pessoas têm muita vontade de comer peixe, mas têm dificuldade no preparo da refeição", afirma Eduardo Lobo, diretor de marketing da Netuno.

Com o lançamento dos novos produtos, a empresa pretende impulsionar o consumo brasileiro de peixe, ainda bastante baixo. Segundo a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), cada brasileiro come 8 quilos de pescados por ano, sendo que a média mundial é de 16 quilos anuais por habitante. Com os produtos mais sofisticados, a Netuno também quer elevar sua lucratividade.

Em geral, as linhas de pratos prontos ou semi-elaborados buscam o consumidor das classes A, B e C que está atrás de praticidade. A Vitalmar realizou alguns testes no em 2007 para a produção de um prato pronto, em parceria com a Duas Rodas, empresa de desenvolvimento alimentar de Jaraguá do Sul (SC), e estuda fazer sua estréia até 2009.

Dario Luiz Vitali, presidente da Vitalmar, diz que no passado já houve um movimento de lançamento de pratos prontos a base de peixe no segmento, mas sem sucesso. Agora, acredita que há um espaço maior porque as empresas sabem da necessidade de brigar por esse mercado para não ficar dependente das exportações. Estas, por sinal, caíram de US$ 352,1 milhões, em 2006, para US$ 284,3 milhões no ano passado.

Rosalvo Rocha, sócio da Qualimar, também não quer ficar de fora do movimento de busca por mais espaço no mercado doméstico. Ele acaba de voltar de uma temporada na França para pesquisar pratos prontos elaborados com peixes. A idéia é desenvolver uma linha para o Brasil até 2009.

"Cada vez mais as pessoas querem praticidade na hora de comer, seja pela falta de tempo ou porque não têm empregada. E hoje fica faltando uma refeição com peixe entre os pratos pré-prontos", explica.

Segundo Rocha, até agora não foi possível criar esse tipo de produto no Brasil porque sempre houve uma dependência muito grande da pesca extrativista no país. "Isso não garante nem regularidade no fornecimento nem padronização do produto, tornando difícil fazer pratos em larga escala". Agora, para atender a essa necessidade, a Qualimar quer produzir 10 mil toneladas por ano de tilápia em cativeiro. "A tilápia é um peixe de sabor leve, excelente para a preparação de pratos prontos".

Para dar maior visibilidade à novidade, a Qualimar planeja contratar chefs brasileiros para elaborar as receitas dos pratos. "Cada chef vai criar uma refeição. Assim as pessoas vão ver que peixe não tem tudo o mesmo sabor", diz Rocha.(CM e VJ)