Título: Ativos aplicados no exterior superam a dívida externa pela primeira vez
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2008, Finanças, p. C2

O Brasil se tornou credor externo líquido pela primeira vez na história econômica do país, informou ontem o Banco Central (BC). Em janeiro, os ativos brasileiros aplicados no exterior, como as reservas internacionais e os haveres de bancos brasileiros, superam em US$ 4,3 bilhões a dívida externa pública e privada. Em cinco anos, a divida externa líquida do país foi reduzida em US$ 165,2 bilhões.

"A melhora expressiva nos vários indicadores de sustentabilidade externa do Brasil é um marco de nossa história", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Estamos superando gradativamente um longo período caracterizado por vulnerabilidade e crises, causadas principalmente pela dificuldade em honrar o passivo externo do País."

O fato de o país ter se tornado credor não significa, porém, a completa eliminação da vulnerabilidade externa. Ao mesmo tempo em que, nos últimos anos, a dívida externa líquida foi reduzida, aumentou o chamado passivo externo líquido, um indicador mais amplo que inclui também os investimentos estrangeiros.

A dívida externa líquida é calculada com base em quatro indicadores. Um deles é a dívida externa total do setor público e privado.

O número referente a janeiro não foi divulgado, mas sabe-se que em dezembro somava US$ 197,697 bilhões. Da dívida total, são abatidas as reservas internacionais, que estava em US$ 187,507 bilhões em janeiro. Também são subtraídos os créditos brasileiros no exterior (os números ainda não foram divulgados, mas estão na ordem de US$ 3 bilhões) e os haveres de bancos comerciais (cerca de US$ 10 bilhões).

Os recursos com os quais o Brasil pagou sua dívida líquida e se tornou credor vieram dos superávits em conta corrente, registrados a partir de 2003, e dos investimentos estrangeiros diretos e em carteira. Para 2008, espera-se que pelo menos uma dessas fontes deixe de gerar divisas: o BC prevê um déficit em conta corrente de US$ 3,5 bilhões. Mas os investimentos diretos devem chegar a US$ 28 bilhões no ano.

Os dólares dessas duas fontes permitiram que, de um lado, o BC acumulassem reservas internacionais e, de outro, o governo e as empresas privadas quitassem parte de sua dívida externa. O governo pagou, por exemplo, uma dívida de US$ 20,7 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2005. No mesmo ano, o Brasil resgatou antecipadamente US$ 1 bilhão em C-Bonds, além de US$ 5,8 bilhões em outros títulos da dívida renegociada.

Ao mesmo tempo em que a dívida externa líquida era reduzida, aumentava o chamado passivo externo líquido, que passou de US$ 297 bilhões para US$ 472 bilhões entre 2004 e junho de 2007. Esse indicador inclui não apenas a dívida externa líquida, mas também os investimentos estrangeiros no Brasil e os investimentos brasileiros no exterior. A alta do passivo externo líquido se deve ao grande volume de investimentos no país. A queda da dívida líquida faz com que os compromissos com pagamento de juros previstos para 2008 somam apenas US$ 4,5 bilhões, mas as remessas previstas de lucros e dividendos somam US$ 20 bilhões, em virtude sobretudo da elevação do passivo liquido.