Título: Acordo sobre leite deve ser fechado hoje
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Brasil, p. A2

Brasil e Argentina devem assinar hoje um acordo de três anos para tentar evitar aumentos súbitos nas exportações argentinas de leite em pó ao Brasil, que poderiam deprimir preços no mercado brasileiro e prejudicar os produtores. O acerto feito ontem deverá ser formalizado hoje e evita que o governo brasileiro aplique uma tarifa adicional sobre o leite em pó do país vizinho, atualizando um pacto de preços mínimos assinado em 2001 e que vence neste mês de fevereiro. De acordo com fontes ligadas às negociações, a proposta feita pelo governo brasileiro foi bem recebida pelos negociadores argentinos. Segundo as mesmas fontes, falta apenas a realização de consultas finais com empresas do setor para que o documento seja assinado. A possibilidade de um recuo era considerada muito remota. Na prática, o acordo não favorecerá - pelo menos por enquanto - o ingresso do leite argentino no Brasil. Os produtores argentinos não poderão exportar o produto abaixo de um dos preços mínimos de referência internacional para o leite em pó publicados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que atualmente estão em US$ 2.150 por tonelada. Como os preços cobrados no mercado brasileiro são inferiores a esse, na situação atual não existe risco de aumento nas exportações da Argentina. O acordo também prevê que, caso o preço de referência caia para US$ 1.900 por tonelada ou menos, seja agregado um adicional variável a esse valor para que o leite argentino possa ingressar no nercado brasileiro. Isso quer dizer que os produtores argentinos vão ser obrigados a vender seu leite ao Brasil acima dos preços cobrados internacionalmente. O mecanismo tem o objetivo de evitar uma possível "invasão" de leite argentino no Brasil, caso o preço internacional do produto atinja um nível inferior ao do mercado interno brasileiro, o que poderia ocorrer como conseqüência da aplicação de subsídios ou de uma variação dos custos domésticos de processamento do produto. Segundo o que foi acertado entre os produtores dos dois países na reunião realizada na Secretaria de Indústria da Argentina, o comércio de leite em pó também passará a ser acompanhado pela comissão formada pelos dois governos para monitorar o comércio bilateral em setores que são considerados sensíveis.(PB)