Título: Derrubada de floresta elimina benefício de biocombustível
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2008, Vida, p. A13

Os benefícios para o clima que o biocombustível traz podem ser muito menores do que se pensa - ele pode chegar até a agravar o aquecimento global. Segundo uma pesquisa publicada no site da revista Science (www.scienceexpress.org), seriam necessários 320 anos para que começasse a valer a pena - ambientalmente falando - derrubar floresta amazônica para plantar soja e produzir biodiesel.

Em relação ao cerrado, a diferença seria de 17 anos em áreas mais úmidas e de 37 anos no caso de regiões mais secas. A emissão de carbono pela simples conversão de mata nativa em culturas de soja, cana-de-açúcar, dendê e outras matérias-primas seria maior do que a economia pela substituição da gasolina e do diesel. ¿O débito que apontamos é a relação entre a quantidade de carbono que existia estocada no solo e na vegetação, liberado na atmosfera pelo desmatamento e a queimada, versus produção em longo prazo¿, explica o ecólogo David Tilman, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos.

Em todo o mundo, seriam emitidos de 17 a 420 vezes mais gases-estufa na atmosfera, com a alteração de florestas tropicais, cerrados, campos e ¿peatlands¿ (um tipo de pântano tropical), do que a redução anual trazida pelo uso do biocombustível como fonte de energia. ¿Precisamos ter certeza de que não estão piorando o problema¿, diz outro autor do estudo, Jason Hill, da mesma universidade.

O alerta é dado em meio a uma febre mundial de aumento da produção de biocombustível como forma de reduzir a dependência do petróleo. No Brasil, segundo maior produtor do mundo de etanol, cresce o interesse pelo setor, assim como a preocupação com a conseqüência da expansão da produção. O desmatamento e a queimada da Amazônia e do cerrado já são a principal fonte brasileira de emissão de gases-estufa: em 2004, foram 776 gigatoneladas de CO2.

Na Ásia, o desmatamento e as queimadas dos peatlands, para abrir espaço ao dendê, fizeram a União Européia exigir certificação ambiental antes de comprar a produção. A pesquisa indica que 420 anos seriam necessários para compensar a ação, por 50 anos, nos peatlands da Indonésia e da Malásia.

Não há tempo suficiente para isso. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o mundo precisa reduzir sua emissão de gases-estufa nas próximas décadas para evitar mudanças climáticas perigosas para o homem. Os europeus falam em 20 anos.

Para reduzir o impacto e aumentar os benefícios, os autores sugerem que terras abandonadas e degradadas sejam usadas para esse fim.

Segundo eles, a estratégia evitaria a abertura de outros campos de cultivo, assim como o efeito cascata, quando terras antes voltadas à pecuária recebem a cultura do biocombustível, enquanto os bois vão pastar em outros locais - como na floresta tropical. COM REUTERS

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