Título: Impasse sobre São Francisco passa por investimentos, afirmam especialistas
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Brasil, p. A2

A discussão em torno da transposição das águas do rio São Francisco não é uma questão ambiental e sim de investimentos. A disputa por investimentos está na garantia que os chamados Estados doadores como a Bahia, Alagoas e Sergipe, querem para continuar expandindo suas fronteiras agrícolas, industriais e sociais. Esta foi a conclusão da mesa redonda sobre o tema que fez parte das discussões da 10ª Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), encerrada ontem, no Recife. De acordo com o professor de Hidrologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e integrante do Comitê da Bacia do São Francisco, José Almir Cirilo, o erro do atual projeto da transposição está em dar destaque as atividades econômicas no lugar de priorizar o consumo humano. "Somos favoráveis a transposição desde que o consumo humano seja priorizado. A própria SBPC já havia elaborado um documento onde observava que sai infinitamente mais barato investir em projetos agrícolas e agroindustriais localizados às margens da própria bacia do rio São Francisco", afirmou. As margens do Rio São Francisco, segundo dados da própria SBPC e da Valexport (associação que congrega os produtores e exportadores do vale do São Francisco) existem cerca de 120 mil hectares de perímetros irrigados que nunca foram concluídos ou implementados. No caso do abastecimento humano, o chamado eixo leste da transposição teria como principal objetivo atender ao consumo humano. Este eixo alcança áreas dos estados de Pernambuco e Paraíba onde o déficit hídrico para o consumo humano é considerado insuficiente. Já o eixo Norte, que compreende parte da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, teria o seu retorno econômico qualificado como incerto além de não alcançar satisfatoriamente as populações difusas, sem ter a certeza dos benefícios sociais. O diretor de engenharia e construção da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), José Ailton de Lima, diz que "a transposição das águas da bacia do São Francisco visa mitigar as carências e potencializar as oportunidades a partir de um melhor gerenciamento hídrico em toda a região. Segundo ele, os problemas citados pelos que são contrários ao projeto levam em consideração apenas a vazão ecológica -vazão mínima garantida em qualquer período do ano- atualmente controlada pela estatal, que é de 1.300 metros cúbicos/segundo.