Título: Indústria de SP perdeu força em dezembro
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Brasil, p. A4

A indústria paulista desacelerou o ritmo de crescimento em dezembro. O indicador de nível de atividade (INA), produzido em parceria pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Centro das Indústrias do Estado (Ciesp), mostrou retração de 8,2% em relação a novembro, na série sem ajuste sazonal. Mas o resultado negativo do último mês não abalou o desempenho do ano. A indústria encerrou 2004 com crescimento de 8,5% sobre 2003, a maior variação em dez anos, e acima dos 6% esperados pelas entidades. Embora a pesquisa atual seja recente e não apresente série histórica para avaliação sazonal, economistas estimam que a queda média da produção entre dezembro e novembro seja de 10%, que está dentro do previsto historicamente. Desta forma, Bráulio Borges, da LCA Consultores, avalia que dezembro ainda foi um mês forte para o setor pois, em relação ao mesmo mês de 2003, a alta foi de 8,6%. Ele alerta, porém, que a indústria começou o ano com estoques altos e a desaceleração do ritmo de crescimento da produção em janeiro é dada como certa. Boris Tabacof, diretor de economia do Ciesp, lembrou que no ano passado a indústria paulista contou com uma conjugação de fatores positivos. Dentre eles, o bom desempenho do agrobusiness, o movimento de queda da taxa de juros - que ocorreu até setembro -, o início de um ciclo de investimentos, além do crescimento da economia mundial, que deu fôlego às exportações brasileiras. As vendas reais cresceram 18,4% no acumulado do ano. Sobre dezembro de 2003, a alta chegou a 21,9%. Outro dado positivo foi o aumento das horas trabalhadas na produção, de 7,6% no ano. "Esse é um sinal de aumento de produtividade", explica Johan Osorio Soza, da Rosenberg & Associados. Os rendimentos no setor também mostraram evolução positiva. O salário real médio teve incremento de 7,1% no ano, enquanto o total de salários reais cresceu 9,5%. Para Soza, esse incremento na renda pode amenizar, em parte, os efeitos do encarecimento do crédito sobre a demanda. "Com mais renda e mais emprego, a economia pode continuar aquecida apesar da alta de juros", acredita. Dentre os setores que se destacaram no ano estão o de material eletrônico e equipamento de comunicação, com crescimento de 24% no indicador do nível de atividade, seguido pelo veículos automotores, com alta de 17,4% na produção e pelo de máquinas e equipamentos, que evoluiu 11,4%. A indústria paulista acabou dezembro com o nível de utilização da capacidade instalada em 79,7%, abaixo dos 82,5% de novembro e um pouco acima do fechamento de 2003 - 76,5%. Para Paulo Francini, diretor do departamento econômico da Fiesp, o dado anual mostra que a indústria se reequipou, pois o a utilização da capacidade não cresceu na mesma proporção do INA. " Existem investimentos a caminho e não há temor de uma escalada nos preços". Sobre 2005, Tabacof ressalta que já há ansiedade no ambiente empresarial após as seguidas elevações dos juros. Mas enfatiza que o ano não está "condenado". Para Paulo Francini, a indústria ainda não sofreu os efeitos do aperto da política monetária. "Enxergamos nuvens, porém a chuva não veio". O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) manteve sua projeção de 8,4% para o crescimento da produção industrial nacional em 2004, apesar de a indústria paulista ter crescido 8,5%. Estevão Kopschitz, economista da instituição, comentou que o fato de o INA ter registrado queda ante novembro reforça o cenário de ligeiro desaquecimento do ritmo de crescimento econômico para este ano. "Tanto, que trabalhamos com alta do PIB de 3,8% para 2005, inferior aos 5,2% para 2004". (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)