Título: Balanços de bancos britânicos devem ter perdas com subprime
Autor: Scott , Mark
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2008, Finanças, p. C12

A cada dia surgem mais notícias ruins sobre o setor global de serviços financeiros. Portanto, não surpreende que observadores do mercado estejam aguardando com a respiração presa os resultados de 2007 dos maiores bancos britânicos, que serão anunciados ao longo das próximas duas semanas. As cinco maiores instituições do país - HSBC, Royal Bank of Scotland (RBS), Halifax Bank of Scotland (HBOS), Barclays e Lloyds TSB - estão todas na linha de fogo, uma vez que os investidores temem novas perdas relacionadas ao setor imobiliário subprime, que poderão enfraquecer ainda mais os balanços e derrubar os preços das ações.

As perspectivas não são encorajadoras. Para bancos globalizados, como o HSBC e o RBS, novas perdas com produtos securitizados complexos são esperadas. Ao mesmo tempo, os bancos com uma orientação mais doméstica, como o Lloyds TSB e o HBOS, estão sentindo as pressões da deterioração do mercado imobiliário britânico e do agravamento do endividamento dos consumidores, que poderá "espremê-los" justo no momento em que especialistas prevêem uma retração econômica.

O Barclays deu início à safra de balanços em 19 de fevereiro, quando anunciou uma redução contábil de seus ativos de US$ 3,1 bilhões. Mas os investidores ficaram aliviados pelo estrago não ter sido maior, e o lucro antes dos impostos de US$ 7,08 bilhões, embora ligeiramente menor, ficou dentro das expectativas do mercado.

Outras perdas ligadas aos problemas no mercado subprime provavelmente se seguirão. "Isso é definitivamente o fim do começo, e não o começo do fim [das baixas contábeis no valor dos ativos dos bancos]", diz Pete Hahn, professor da Cass Business School da City University, e ex-diretor administrativo do Citigroup. "Estamos entrando no momento indefinido em que os rombos na infra-estrutura financeira estão se tornando aparentes."

O HSBC, que deve anunciar os resultados de 2007 em 3 de março, deverá apresentar perdas de mais de US$ 1 bilhão relacionadas à sua exposição aos ativos subprime nos Estados Unidos. Isso poderá ser bem pouco em comparação às baixas contábeis acumuladas de US$ 18 bilhões anunciadas em 30 de janeiro pelo gigante suíço UBS, mas problemas latentes ainda poderão atingir o HSBC no longo prazo.

Segundo a corretora de valores londrina NCB, 31% da carteira global de empréstimos do HSBC estão concentrados em hipotecas residenciais nos EUA e finanças corporativas. Com esse setores já bastante pressionados, analistas afirmam em um relatório que mais problemas poderão "representar uma ameaça significativa de perdas substanciais".

O RBS também tem uma exposição significativa. Analistas bancários do Crédit Suisse, por exemplo, avaliam que o RBS possui em seu portfólio um total combinado de US$ 31,3 bilhões em obrigações de dívida garantidas (collateralized debt obligation, CDOs) e finanças alavancadas, mas apenas 3% desse valor foram dados como perdidos até agora, e portanto mais coisa deve vir por aí. Ironicamente, a duramente vencida batalha do RBS pelo controle do banco holandês ABN AMRO pode ter exacerbado sua exposição aos produtos financeiros securitizados dos EUA.

Em uma atualização de negócios feita em dezembro, o banco de Edinburgo, que anuncia os resultados de 2007 em 28 de fevereiro, disse que estava lançando contra o balanço uma perda de US$ 587 milhões relacionada aos ativos do ABN, sobre uma perda própria de US$ 1,8 bilhão. Agora, analistas esperam novas perdas, especialmente no segmento de financiamentos imobiliários comerciais, que representaram 6% dos lucros antes dos impostos do banco em 2006.

Certamente esses problemas não estão limitados aos bancos britânicos. Em 20 de fevereiro, o BNP Paribas, da França, anunciou uma perda de US$ 1,3 bilhão relacionada ao mercado subprime, sobre uma queda de 32% no lucro líquido do quarto trimestre de 2006, para US$ 2,3 bilhões.

O concorrente Société Générale divulgou em 21 de fevereiro uma perda de US$ 3,8 bilhões no mercado subprime, que, quando acrescida dos US$ 7,1 bilhões referentes às fraudes cometidas pelo operador Jérôme Kerviel, resultaram em um prejuízo de US$ 4,9 bilhões para o quarto trimestre de 2007.

Os bancos britânicos mais focados no mercado doméstico, como o HBOS e o Lloyds TSB, enfrentam um conjunto de problemas diferente. Embora tenham uma exposição muito menor aos ativos subprimes dos EUA, eles se deparam com preocupações no mercado local sobre a estagnação do mercado imobiliário e a alta recorde do nível de endividamento dos consumidores. De fato, em 20 de fevereiro a instituição de crédito imobiliário Alliance & Leicester chocou o mercado com uma queda de 29% no lucro anual e previsões pouco otimistas para 2008, levando a uma queda de quase 7% no preço de sua ação, já meio combalida.

Segundo analistas do JP Morgan Chase, o HBOS, que anuncia os resultados de 2007 em 27 de fevereiro e já divulgou perdas de US$ 352 milhões, está particularmente exposto ao mercado imobiliário comercial britânico. Os preços dos imóveis caíram 12% em 2007 e devem cair mais 15% este ano. Isso terá impacto significativo sobre o banco, uma vez que mais de 42% de sua carteira de empréstimos corporativos é dedicada aos setores da construção e imobiliário.

Com cada banco enfrentando problemas diferentes, mas interligados, a principal dúvida que surge é como as perdas adicionais vão afetar os resultados gerais de 2007. As estimativas variam, mas o consenso mostra os cinco principais bancos britânicos igualando ou tendo um desempenho ligeiramente inferior ao de 2006.