Título: Fabricantes tentam repassar alta dos preços
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2008, Empresas, p. B7

Os recentes recordes nas cotações dos metais não-ferrosos como o cobre, alumínio e estanho, aliado ao aumento no preço do minério de ferro anunciado pela Vale do Rio Doce já refletem em vários segmentos da indústria de transformação. Muitas empresas já cogitam fazer repasses dos custos de matérias-primas e insumos em até 15% para seus clientes. Os empresários reclamam ainda que vão ser afetados em suas margens de ganhos ao absorverem a alta de insumos e matérias-primas.

A situação é amenizada pela depreciação do câmbio nos último anos. A desvalorização do dólar ocorreu em paralelo em boa parte do ciclo de alta das commodities, verificado a partir de meados de 2003. O preço dos insumos alcançou seu auge dois anos depois, no início de 2005, e permaneceu em níveis elevados no ano seguinte. Em 2007, houve um certo arrefecimento dos preços e muitos analistas já apostavam no fim do ciclo. Porém, a trajetória de alta foi retomada neste início de ano, com novos picos de alta de preços, alguns históricos.

No caso do minério de ferro, o primeiro reajuste - para o produto tipo fino - foi anunciado pela Vale na semana passada. A companhia comunicou os acertos com a siderúrgica japonesa Nippon Steel e com a coreana Posco para elevar o preço do minério de ferro em 65%. Foi pouco abaixo dos 71,5% obtido três anos atrás. Como conseqüência, a Nippon Steel e a também japonesa JFE Holdings informaram na sexta-feira que "adotaram o reajuste recorde de 31% para os preços internos no atacado das chapas de aço, repassando a alta dos custos com matérias-primas". ArcelorMittal, a líder mundial do setor, também divulgou aumentos de 10% a 15%. No Brasil, a expectativa é que as usinas locais façam nova alta no segundo trimestre.

"O repasse será inevitável", afirma Wilson Donizetti Bassi, diretor financeiro e sócio da Açotubo. Segundo ele, as siderúrgicas fornecedoras de aço para sua empresa estão acenando com aumento de 15%. Ele diz que isso será repassados integralmente aos clientes da distribuidora. "O minério subiu muito e vamos repassar o aumento dentro de no máximo um mês", estima Bassi. Em 2007, a companhia reajustou o preço do tubo de aço em 9%.

O mesmo ocorre com os fabricantes de fios e cabos elétricos. A Sil, que consumirá neste ano cerca de 12 mil toneladas de cobre, reajustou em 10% o preço de seus produtos somente em fevereiro. O presidente da empresa, Silvio Barone Jr., diz que a situação é complicada. "Há cinco anos a variação no preço do cobre era de no máximo 2% ao mês. Para se ter uma idéia, no começo deste mês nossa base de preços era de US$ 7 mil a tonelada. Hoje, está em mais de US$ 8 mil", relata.

Na última semana, o preço do cobre na Bolsa de Metais de Londres (LME) registrou dois recordes consecutivos, atingindo US$ 8.283 a tonelada na sexta-feira, depois de fechar em US$ 8.241 na quinta-feira. No acumulado do ano, a valorização da commodity é de 23,3%, o que demonstra a volatilidade do mercado. Entre os motivos apontados está a queda dos estoques do produto nos armazéns da LME e em poder de fabricantes.

Um dos setores que vem sofrendo com a alta das matérias primas é o da construção civil. Produtos como cobre, aço, alumínio, latão, entre outros, têm larga aplicação na edificação de casas, apartamentos, escritórios e outros tipos de obras. Nos últimos doze meses (encerrado em janeiro), o preço do tubo de cobre de 15 milímetros subiu 32,76%, enquanto o IGP-M teve alta de 8,38% no mesmo período. Para Eduardo Zaidan, diretor do departamento de economia do Sinduscon São Paulo, os reajustes de preços irão impactar os custos da construção de modo geral.

"Nosso poder de barganha é limitado, pois são diversos fornecedores e compradores, diferente do que ocorre com a indústria automotiva, por exemplo", explica Zaidan. Na opinião dele, setores mais concentrados levam vantagem na hora de negociar.

Esta sensação a indústria de fundição diz conhecer bem. Com 53% da produção brasileira destinada a clientes automotivos, muitas empresas estão perdendo margens para manter os clientes. "O fabricante final tem mais margem do que o transformador, mas mesmo assim não conseguimos repassar o aumento das matérias-primas", queixa-se Devanir Brichesi, presidente da Associação Brasileira de Fundição (Abifa) e da Deluma.

Segundo ele, quase todas as fundições tem uma segunda tabela de preços com resíduos de altas que não foram repassados aos clientes. "Antes mesmo do aumento do minério atingir o mercado, em janeiro tivemos cerca de 7% reajuste, em fevereiro e em março mais 23%. Ou seja, até março já totaliza, sem o impacto do minério, cerca de 32% de aumento em produtos de aço. Chegamos ao limite", afirma. O setor da fundição no Brasil reúne cerca de 250 empresas, que produziram no ano passado mais de 2,2 milhões de toneladas de fundidos. No total, o setor faturou US$ 6,1 bilhões, com crescimento de 4,5% na comparação com 2006.