Título: Blecaute em SP agrava a crise
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 09/02/2011, Economia, p. 14

O blecaute de cinco minutos que atingiu na tarde de ontem 21 bairros da zona sul de São Paulo acabou servindo para esquentar o atual debate nacional sobre a eficiência e a segurança do sistema elétrico brasileiro. As recentes explicações dadas pelo Ministério de Minas e Energia sobre o apagão que atingiu o Nordeste na semana passada não satisfizeram a oposição nem mesmo o governo. Cinco dias depois do corte de fornecimento de energia em oito estados, deixando mais de 46 milhões de pessoas às escuras, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada novamente a mudar sua agenda para reagir às críticas ao modelo criado, sob sua inspiração, há sete anos pela gestão petista.

Ainda irritada com a repercussão negativa, Dilma reuniu-se no fim da tarde de ontem com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e dirigentes do setor elétrico, cobrando um relato preciso sobre o que realmente causou o apagão nordestino. Dilma considerou ¿insatisfatória¿ a explicação apresentada segunda-feira pelo secretário executivo de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, e telefonou na manhã de ontem para Lobão. No entendimento da presidente, a população não teve explicação clara sobre o primeiro apagão do seu governo. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, abandonou uma reunião para atender, às pressas, o chamado presidencial.

Antes da reunião, porém, às 15h21, a parcela mais nobre da capital paulista experimentava o caos que desligou elevadores e semáforos e até interrompeu pousos e decolagens no Aeroporto de Congonhas. A Eletropaulo, concessionária estadual responsável pelo fornecimento de energia elétrica, informou que houve apenas uma falha na transmissão de uma subestação, o que deixou 2,5 milhões de pessoas sem luz. A Companhia de Transmissão e Energia Elétrica Paulista (Cteep), responsável pela transmissão de energia informou, por sua vez, que um dos três transformadores da subestação Bandeirantes falhou.

Transparência De novo, uma subestação gerou transtornos gigantescos. Dessa vez, contudo, a origem se deu sob a jurisdição do governo oposicionista do PSDB. Na segunda-feira, deputados do PSDB apresentaram à Mesa Diretora da Câmara requerimento para ouvir Lobão sobre as causas do apagão do Nordeste. Os parlamentares anunciaram que vão solicitar investigação ao Ministério Público, além de auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Aos olhos dos estudiosos do setor, a presidente Dilma acertou ao cobrar mais dados sobre o evento do Nordeste, ainda repleto de dúvidas. A justificativa de que houve apenas uma falha em um cartão de proteção do sistema, na subestação de Luiz Gonzaga, em Pernambuco, é até tecnicamente aceitável, mas insuficiente para explicar o tamanho dos seus desdobramentos. ¿Eventos como o envolvendo a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) na sexta-feira geram grave preocupação à medida que revelam a fragilidade de um sistema grande e complexo¿, disse Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Adriano Pires, professor da UFRJ e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), o apagão paulistano refletiu causas conjunturais, como o aumento da carga em tempos de verão. Mas ele ressalta que o tipo de falha ocorrida numa subestação de uma concessionária privada remete às mesmas causas dos grandes apagões de 2009 e 2011, marcados pela gestão estatal. ¿Temos de rever o modelo elétrico brasileiro, que inibe investimentos em manutenção e modernização, além de falhar na fiscalização dos serviços de distribuição e transmissão¿, criticou.

A Aneel rebateu as críticas de falta de fiscalização e informou que a autarquia realiza checagens periódicas nas geradoras, nas distribuidoras e nas transmissoras em todo o país. ¿Essa atividade segue um cronograma anual e na modalidade técnica-comercial avalia a manutenção dos equipamentos, a operação e o atendimento aos clientes¿, afirmou o órgão. Números da agência mostram que, em 2010, foram feitas, no total, 1.105 ações desse tipo. (Colaborou Rosana Hessel)

Financiamento O Plenário do Senado Federal ampliou em R$ 90 bilhões a linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor elétrico, passando de R$ 44 bilhões para R$ 134 bilhões. Esse financiamento possui taxas subsidiadas pelo governo e deve aumentar a participação da iniciativa privada na geração de energia e permitir o andamento das obras das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, e a construção de Belo Monte, no Pará.