Título: Ministros atuam para eleger Greenhalgh no 1º turno
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não atuou diretamente para eleger o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) presidente da Câmara e nem deve fazê-lo, mas apelou a todos os ministros para que entrem na campanha. Nas duas últimas semanas, o governo entrou "de cabeça" na articulação política para eleger Greenhalgh e intensificou a cobrança aos aliados. O saldo, analisado durante jantar, na noite de quarta-feira, com líderes aliados na residência oficial do presidente da Câmara, João Paulo Cunha, é que num cálculo bastante realista já estão garantidos 253 votos. O candidato do governo estava presente. O placar evoluiu e há chance concreta de vitória no primeiro turno, mas os líderes insistiram que a eleição não está ganha. Participaram da reunião os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política). Dirceu deixou claro que, para o governo, é "fundamental" a vitória de Greenhalgh e enfatizou que Virgílio Guimarães não é candidato do governo e que o Executivo não vê a candidatura do petista mineiro com simpatia. João Paulo, ministros e líderes avaliaram que, pelo bem da instituição e dos partidos políticos, é necessário respeitar a tradição, o regimento e eleger os candidatos oficiais. "É a força do governo", disse um petista da cúpula, ao analisar a mudança de cenário mais favorável a Greenhalgh. O PT também trabalha silenciosamente pelo enfraquecimento político de Virgílio Guimarães. Ele começou ontem a perder cargos que indicou na prefeitura de Belo Horizonte, comandada por Fernando Pimentel. Já há consenso no partido que Virgílio não será mais relator da reforma tributária; não será mais o representante do PT na Comissão Mista de Orçamento; não vai representar o partido em nenhuma comissão relevante. Além disso, os petistas consideram que a convivência dele com a bancada, inicialmente, será bastante delicada. Os líderes da base analisaram ainda, no jantar, que em toda democracia do mundo o Executivo exerce influência sobre os legislativos. Greenhalgh fez um desabafo inesperado, segundo relato de líderes, e repetiu o que vem dizendo aos deputados: que a reação contrária à sua candidatura é o troco dos parlamentares ao tratamento inadequado que receberam do governo, especialmente em relação à liberação de emendas, e ao difícil diálogo com certos ministros. Os ministros ouviram a lamentação, sem reagir. O fato de os ministros explicitarem com clareza a posição do governo facilita o trabalho dos líderes. "Os ministros todos estão envolvidos e se integrando à campanha", afirmou João Paulo ontem. O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), acha que as perspectivas são boas, mas os governistas não serão arrogantes e nem cantarão a vitória no primeiro turno. "Agora o governo deixou muito mais clara a sua posição, e realmente tinha que deixar. O governo tem peso. Isso pode até tirar uns votos, mas também dá votos", disse Casagrande. Os votos contabilizados ontem são os seguintes: 90 no PT; 35 no PMDB; 30 no PL; 30 no PTB; 15 no PP; 10 no PPS; 10 no PSB; 8 no PC do B; 2 no PV; 8 no PDT; e 25 no PSDB e PFL. Ninguém ainda trabalha com o cenário de renúncia de um dos outros quatro candidatos: Virgílio Guimarães (PT-MG), Severino Cavalcanti (PP-PE); José Carlos Aleluia (PFL-BA); e Jair Bolsonaro (PFL-RJ). A atuação dos ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Roberto Rodrigues (Agricultura), Walfrido Mares Guia (Turismo), Ciro Gomes (Integração Nacional), e Eunício Oliveira (Comunicações) está sendo considerada fundamental. "Os ministros que ainda não entraram de cabeça vão entrar", sentenciou um governista. Vence no primeiro turno o candidato que tiver a maioria absoluta dos votos registrados no plenário, ou seja, considera-se a metade mais um dos votantes, e não do total de deputados (513). Se ninguém conseguir a maioria absoluta, é realizado segundo turno entre os dois mais votados.