Título: Balança comercial tem primeiro déficit semanal desde maio de 2002
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2008, Brasil, p. A2

Pela primeira vez desde a terceira semana de maio de 2002 a balança comercial teve resultado negativo. Entre 18 e 22 de fevereiro, as importações superaram as exportações em US$ 81 milhões. Segundo os números divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as vendas, na semana passada, foram de US$ 3,66 bilhões, com média diária de US$ 733,2 milhões. Naquele período, as compras chegaram a US$ 3,74 bilhões, com média diária de US$ 749,4 milhões.

Na análise do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, um resultado semanal negativo pode ocorrer este ano em períodos "isolados".

A previsão da entidade, realizada no fim de 2007, está mantida e considera superávit comercial de US$ 29,73 bilhões em 2008. Esse saldo é 22,4% menor que o do ano passado.

"Há algo estranho no mundo. Os preços das commodities não caem, mesmo com notícias ruins. Parece que não há crise financeira internacional. O Brasil é um grande exportador de produtos básicos e está ganhando com esse cenário", comentou. Castro reafirmou o alerta que sempre faz. Os exportadores de commodities não controlam as cotações do produto.

Verificando o que ocorreu neste início de ano, o vice-presidente da AEB advertiu que o ritmo de crescimento das importações (22,4%) está muito acima da taxa de aumento das exportações. Se for levada em conta a nova meta das vendas externas, de US$ 180 bilhões, a elevação seria de 12% sobre o que aconteceu no ano passado.

Ele disse que as exportações vêm se mantendo pelos preços das commodities e que, em alguns casos, são registradas reduções nas quantidades embarcadas. "A corda está esticada demais", afirmou Castro, referindo-se ao comportamento das cotações das commodities.

De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, na semana passada houve aumento de 27,1% nos embarques de produtos básicos, principalmente petróleo em bruto, café em grão, farelo de soja, soja em grão e fumo em folhas.

As vendas de semimanufaturados caíram 0,2% naqueles cinco dias úteis. No grupo dos manufaturados, também ocorreu queda de 1,9%, influenciada pelo comportamento de autopeças, motores para veículos, calçados, álcool etílico e máquinas e aparelhos para terraplanagem.

Os números das importações na semana passada, segundo a Secex, revelam aumento de 32,4%. Os principais crescimentos foram verificados nas compras de combustíveis e lubrificantes, cereais e produtos de moagem, equipamentos mecânicos, aparelhos eletroeletrônicos, veículos automóveis e adubos e fertilizantes.

As compras que "mais chamaram a atenção" do governo foram as de petróleo (US$ 695 milhões), principalmente da Nigéria, gás natural da Bolívia (US$ 197 milhões) e trigo da Argentina (US$ 98 milhões).

A balança comercial até 24 de fevereiro teve 14 dias úteis e exportações de US$ 9,82 bilhões, com média diária de US$ 701,4 milhões. Esse valor é 24,6% maior que a média diária registrada em fevereiro de 2007. Houve crescimento nas vendas das três categorias de produtos: básicos (34%), semimanufaturados (31,8%) e manufaturados (15,9%).

As importações, até 24 de fevereiro, alcançaram US$ 8,84 bilhões, com média diária de US$ 631,6 milhões. Nesse período, o crescimento foi de 57,2% sobre a média diária de fevereiro de 2007. O governo registrou aumentos nos desembarques de cereais e produtos de moagem (147,2%), adubos e fertilizantes (117%), produtos siderúrgicos (90%), veículos automotores e partes (70,1%), combustíveis e lubrificantes (68,9%) e equipamentos mecânicos (61,1%).

O resultado acumulado da balança comercial neste ano mostra superávit de US$ 1,92 bilhão. As exportações foram de US$ 23,09 bilhões. A média diária das vendas externas, neste ano, foi de US$ 641,6 milhões, o que revela aumento de 22,4% sobre o mesmo período de 2007. No caso das importações, as médias diárias deste ano (US$ 588,2 milhões) são 51,2% maiores que as do mesmo período no ano passado. O total das compras foi de US$ 21,17 bilhões.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse ontem que o país deve exportar entre US$ 175 bilhões e US$ 180 bilhões este ano, devido ao reajuste do minério de ferro obtido pela Vale na última semana. A previsão anterior do ministério era de exportações no valor de US$ 172 bilhões para 2008, e de US$ 200 bi para 2009. "O impacto do reajuste dos minérios, por volta de 65%, deverá trazer maior resultado para a balança"´, afirmou. Segundo Jorge, a previsão já contempla a cotação do dólar nos baixos níveis que tem registrado nos últimos dias.