Título: País planeja construir cinco hidrelétricas em parceria com vizinhos
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2008, Brasil, p. A4

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou ontem, em Brasília, a construção de cinco usinas hidrelétricas em parceria com a Bolívia e a Argentina, que, juntas, vão gerar aproximadamente 10 mil MW, numa tentativa de promover a integração energética entre os três países. Segundo Lobão, o acerto para a construção dessas hidrelétricas - três com a Argentina e duas com a Bolívia - foi feito no final de semana, após reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales e Cristina Kirchner.

"O custo disso (aproximadamente R$ 30 bilhões) será bancado pelo Brasil, pela Argentina e pela Bolívia, numa associação como a que foi feita com o Paraguai em Itaipu", afirmou o ministro.

Lobão, no entanto, não soube dizer que usinas seriam essas, fato que gerou diversas especulações ao longo de todo dia. No rio Madeira, já há a previsão de construção das usinas de Santo Antônio e Jirau. Na fronteira com a Bolívia, mais precisamente no rio Mamoré, existe a intenção de se construir uma usina binacional (Guajará-Mirim) e, em território boliviano, há planos de construção da hidrelétrica de Cachuela Esperanza, no rio Beni, no departamento (Estado) de mesmo nome.

Na parceria com os argentinos, as informações são ainda mais nebulosas. Já é conhecida a idéia de se construir a usina de Garabi (2 mil MW). Outras duas estariam nos planos de ambos os governos - São Pedro e Roncador - mas, por enquanto, pelo menos oficialmente, não há previsão de potencial hidrelétrico nem levantamentos de viabilidade econômica. Mesmo assim, Lobão mostrou entusiasmo. "Não é uma obra de curto prazo. É uma obra que pede um prazo para servir a esses países dentro de muito pouco tempo.".

O ministro anunciou reuniões conjuntas, ainda este mês, dos três ministros de Minas e Energia e, em seguida, dos ministros de Meio Ambiente. "O presidente Lula recomendou que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participe dessas reuniões para que a burocracia seja definitivamente banida desses entendimentos", afirmou Lobão. O leilão das usinas do rio Madeira, por exemplo, sofreu atraso porque o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente demoraram para liberar o licenciamento ambiental prévio. "Vamos nos reunir em dez dias em Brasília ou La Paz", previu o ministro.

Essa parceria energética foi ressaltada pelo presidente Lula na reunião de coordenação política, realizada na manhã de ontem. Ao relatar para os demais ministros sua viagem à Argentina, Lula defendeu a elaboração de um plano de energia de longo prazo para a América do Sul. Segundo um dos ministros presentes à reunião, a intenção de Lula é parar de discutir as questões no varejo - crise do gás entre Bolívia, Argentina e Brasil - e pensar as coisas no atacado. "Todos os países da região estão crescendo e, com certeza, a questão energética é uma das principais fragilidades", disse o ministro.

Apesar do discurso de integração, a idéia, por enquanto, está restrita a esses três países. O Brasil vem discutindo, há algum tempo, a construção de um gasoduto ligando a Venezuela, o Brasil e a Argentina, mas as negociações estão paradas, entre outras razões, afirmou um ministro, por causa da dificuldade de a PDVSA certificar a quantidade de gás recuperável. "Existem grandes diferenças entre os diversos países. No caso da Petrobras, as coisas são pão-pão, queijo-queijo. Já para a PDVSA, as regras são mais elásticas do ponto de vista técnico."

Se há planos para uma unificação externa, o governo enfrenta dificuldades no plano interno para cumprir um de seus principais programas para o setor - o Luz Para Todos. Com a reversão do êxodo rural, os Estados do Norte e Nordeste não conseguiram cumprir as metas de universalização. Com isso, uma das alternativas estudadas é anunciar a universalização dos pontos de luz no Centro-Oeste, Sul e Sudeste e prorrogar o prazo para as demais áreas até 2010. (Colaborou Daniel Rittner)