Título: Brasileiro usa telefone caro, mas aproveita pouco recurso
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2008, Empresas, p. B3

O brasileiro tem disposição para gastar mais na compra de um telefone celular do que seus pares no restante do mundo. Porém, ainda faz uso limitado dos recursos disponíveis no aparelho.

Essa é uma das conclusões que podem ser extraídas de levantamento feito pela consultoria TNS InterScience com 16 mil entrevistados em 30 países.

A despeito dos subsídios concedidos pelas operadoras, os usuários de celular no Brasil gastaram, em média, US$ 229 na aquisição de seu aparelho atual - e quase a metade deles pretende trocá-lo nos próximos 18 meses. A média global é de US$ 179, com a ajuda , entre outros fatores, de carga tributária menor.

"Apesar de pagar mais caro pelos aparelhos, a gente ainda está um passo atrás em termos de serviços. As pessoas ainda não sabem quais são os recursos disponíveis, por isso os serviços desejados ainda são os básicos", afirma Renato Trindade diretor de tecnologia da TNS. O estudo completo será divulgado hoje, mas foi obtido com exclusividade pelo Valor.

Os recursos desejados pelos assinantes de celular no Brasil e na América Latina são semelhantes aos interesses verificados em outros países. No entanto, a utilização de alguns recursos do telefone é menor entre os latinos.

Exemplo disso é o acesso a conteúdos da internet pelo celular. Na América Latina, esse recurso (protocolo conhecido pela sigla wap, em inglês) está disponível em 44% dos telefones móveis, mas somente 17% utilizam-no. A média mundial de adoção desse recurso é de 20%.

Na música - um dos recursos que os especialistas consideram mais promissores na telefonia móvel - acontece algo parecido. O levantamento mostra que 43% dos assinantes de celular no mundo escutam música no celular (em MP3 ou outros formatos), mas entre os latino-americanos o número cai para 29%.

E até mesmo nas mensagens de texto - o mais antigo e popular dos serviços de transmissão de dados do celular - o uso na América Latina (45%) é inferior à média mundial (78%).

Na avaliação de Trindade, boa parte dessa defasagem resulta da falta de informação sobre os serviços. "É preciso torná-los mais palatáveis ao consumidor. Nas lojas, os vendedores falam que o celular tem câmera e toca MP3, mas não ensinam a usar", avalia.

Segundo ele, a chegada das redes de terceira geração (3G) à América Latina - e ao Brasil, particularmente - ajudará a equiparar a região aos índices globais. "Daqui a cinco anos, quando a 3G estiver plenamente implantada, esse passo atrás em que a gente se encontra vai ser ignorado", diz. "Os jovens brasileiros têm muito interesse em tecnologia. Quando têm acesso, fazem um uso tão intenso dela quanto os jovens de outros países."

Para o diretor da TNS, a diferença existente hoje no mercado latino-americano - e em regiões como África e parte da Ásia - representa uma oportunidade de crescimento para as operadoras que atuam nessas regiões. Há potencial para serviços baseados em música, mensagens instantâneas, localização e internet, entre outros.

Segundo a consultoria, as empresas de telefonia móvel no Brasil deverão investir entre R$ 3 bilhões e R$ 5 bilhões na implantação das redes e na compra de terminais de terceira geração, somente em 2008. "As trocas de celulares serão intensas nos próximos três anos", diz Trindade.