Título: Ataque russo à postura da UE na carne
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2008, Agronegócios, p. B16

Stephanes serve picanha ao russo Dankvert: "Não podemos levar essas questões por um lado político", afirmou o visitante Mesmo com um recente histórico de censuras ao Brasil em temas sanitários, a Rússia mudou ontem de tom ao atacar os procedimentos adotados pela União Européia no caso do embargo à carne bovina brasileira, decretado no início do mês.

Em visita ao país para conhecer o sistema de produção agropecuária, o chefe do Serviço Veterinário e Fitossanitário da Rússia, Sergei Dankvert, acusou os europeus de ceder a pressões políticas internas e de não querer resolver o embargo imposto ao Brasil. "Não podemos levar essas questões por um lado político", ensinou o russo, que tem status de ministro em seu país.

"Nós, aqui, não estamos politizando o assunto". Ele acusou a existência de "manobras" entre Parlamento Europeu e os parlamentos dos países-membros para interferir no comércio. "Na verdade, eles não querem procurar nenhuma solução porque, na realidade, essa solução não traz vantagens pra eles", atacou. "A carne, no Brasil, como em qualquer outro país, tem de várias qualidades".

Representante do maior comprador individual de carnes brasileiras, o ministro russo aproveitou o embate interno com a UE para sublinhar as diferenças de tratamento dispensados pela Rússia ao Brasil. "Com vocês, trabalhamos com o sistema estabelecido. Em todos os países existem problemas. No Brasil, também existem, mas vocês podem observar que a Rússia nunca bloqueou totalmente as exportações brasileiras".

E justificou embargos russos anteriores: "A Rússia compra carne conforme certas exigências e o Brasil tem que fornecer a carne que atende a essa exigência. Podem ser impostas algumas limitações sistemáticas se esses problemas existem", disse.

Acompanhado pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o ministro russo desdenhou dos controles sanitários europeus. "Muito do que é feito pelo serviço veterinário europeu é muito diferente da nossa opinião", disse. E citou uma disputa com a UE em razão da ocorrência de 700 focos de peste suína clássica na Bulgária e Romênia em 2007. "Se analisarmos a situação de países como Bulgária e Romênia, e se tivermos que agir assim como a Comunidade Européia age com o Brasil, deveríamos fechar todas as exportações [da UE] de carne suína"

Para finalizar sua análise, Sergei Dankvert afirmou que europeus e norte-americanos cobram o cumprimento das regras da Organização Mundial de Comércio (OMC), na qual a Rússia ainda aguarda para ingressar, mas não praticam esse posição liberal. E afirmou que seu país segue princípios de regionalização da produção para aplicar sanções sanitárias aos parceiros comerciais. "Os problemas precisam ser solucionados e não podemos escondê-los", afirmou.

Dankvert informou que as vendas de empresas brasileiras de carne saltaram de 30 mil toneladas, em 2000, para 945 mil toneladas no ano passado - ou US$ 1,9 bilhão. E anunciou que outros 40 frigoríficos brasileiros serão reabilitados a vender carne ao mercado russo nos próximos dias.