Título: País retoma dependência de capital
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2008, Finanças, p. C1
O Brasil voltará a depender de capitais estrangeiros para financiar as contas externas, depois que a era de superávits em conta corrente chegou definitivamente ao fim, com um déficit de US$ 1,169 bilhão nos 12 meses encerrados em janeiro. Nos últimos cinco anos, o país teve superávits, o que significa que exportou capitais ao exterior.
A principal fonte de recursos que o Banco Central conta para financiar o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos são os investimentos estrangeiros diretos, que em janeiro atingiram US$ 4,814 bilhões.
A expectativa do Banco Central é que ingressem no país US$ 28 bilhões no ano.
Em fevereiro, os números parciais até o dia 25 indicam ingresso líquidos de apenas US$ 100 milhões, e a expectativa é que, no mês, fiquem em US$ 200 milhões. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, explica que os números são menores porque em fevereiro houve três operações pontuais de repatriação de investimentos, nos setores de alimentos e de comércio, no valor total de US$ 1 bilhão.
"Continuamos a esperar fluxos muito fortes de investimentos diretos, dadas as intenções de investimentos que coletamos junto às empresas", afirma Lopes. "No Brasil e no mundo, o que determina o investimento direto é o crescimento da economia, e sob esse aspecto podemos esperar a continuidade dos fluxos positivos", disse o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida.
Outra fonte de recursos que o Banco Central conta para financiar o déficit em conta corrente são os as captações de médio e longo prazos de empresas no exterior. Em janeiro, apesar da forte volatilidade no mercado externo, as empresas renovaram o equivalente a 108% dos vencimentos de dívidas. A projeção para o ano é que renovem 100% dos vencimentos.
"As captações de longo prazo e os investimentos diretos são suficientes não só para cobrir o déficit em conta corrente, como para reduzir a dívida externa de curto prazo", garantiu o diretor do Banco Central. Em janeiro, essa dívida teve uma redução de US$ 4,435 bilhões, caindo para US$ 38,103 bilhões.
O BC projeta para 2008 um déficit em conta corrente de US$ 3,5 bilhões. Em janeiro, porém, o resultado, que ficou em US$ 4,232 bilhões, foi pior que os US$ 2,8 bilhões esperados pelo Banco Central.
Para fevereiro, a projeção é um déficit de US$ 1,7 bilhão. Apesar dos primeiros números do ano serem piores do que o antecipado, os analistas econômicos ainda não vêem trajetória explosiva do déficit em conta corrente.