Título: Aquisições fortalecem a base de expansão do grupo Votorantim
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Empresas &, p. B1

O intenso movimento de aquisições no Brasil, América do Nor te e no Peru no ano passado, com desembolsos superiores a R$ 4 bilhões, é hoje um dos pontos fortes do crescimento do grupo Votorantim. Capitaneado pela família Ermírio de Moraes, que o fundou em 1918, o conglomerado industrial está entre os maiores do país com capital nacional. O grupo fechou o ano passado com aumento na receita líquida de 18% sobre 2003 ao atingir R$ 15,95 bilhões. Por conta dos novos ativos incorporados à companhia, como duas fábricas de cimento adquiridas nos Estados Unidos, uma refinaria de zinco no Peru e metade da fabricante de celulose e papel Ripasa, a expectativa é repetir a dose em 2005. Nessa conta entram também a recuperação da demanda de cimento no Brasil e a manutenção dos preços dos metais, como alumínio, zinco, níquel e aço, que alcançaram patamares recordes de valorização no mundo em 2004. A estratégia continua sustentada na busca de novas oportunidades no negócio de cimento no exterior - depois de Estados Unidos e Canadá, o novo alvo é a Índia - e expansão orgânica dos ativos existentes no Brasil. No país, o destaque é para metais - há novos planos para alumínio - e celulose e papel. Mas aquisições não deverão passar desapercebidas. À frente desse modelo, com o suporte do conselho de administração formado por integrantes das quatro famílias, com Antônio Ermírio de Moraes na presidência, está a terceira geração dos Ermírio de Moraes. Desde 2001, um comitê executivo de oito herdeiros traça e comanda a gestão estratégica. "Nosso crescimento tem ficado em taxas médias reais de 15% ao ano desde 1999", disse Carlos Ermírio de Moraes, presidente do conselho executivo do grupo, em entrevista ao Valor. "Ao assumirmos o conselho executivo definimos a meta de crescimento real, em valor do grupo, de pelo menos 12% ao ano", acrescentou o primo José Roberto Ermírio de Moraes, que preside a Votorantim Industrial, principal área de negócios do grupo. Nela estão reunidos ativos de cimento - Brasil e exterior -, metais, celulose e papel, suco de laranja, química e energia. Os números usados como base pelos dois executivos-empresários foram a receita líquida e a geração de resultado operacional, de R$ 6,4 bilhões e R$ 2,6 bilhões, respectivamente, obtida no ano 2000. O objetivo traçado foi de pelo menos triplicar o valor do grupo até 2010. A cifra os dois primos preferem não revelar. "Estamos dentro da meta e certos de que vamos alcançar o alvo", comenta José Roberto. Os dois últimos anos foram profícuos para o desempenho do grupo no negócio de metais, cujas cotações chegaram a níveis recordes. E favoreceram também a área de celulose e papel, onde o grupo fez uma expansão expressiva e aproveitou o ciclo de alta de demanda e preços no mercado internacional. Em 2004, o alumínio subiu 17%, o níquel 32%, o zinco saiu do limbo e já vale mais de US$ 1,2 mil a tonelada e a celulose teve alta de 29%, mencionou Carlos Ermírio. A conjunção de aumento de volume e alta de preços proporcionou ao grupo crescimento de 34% na receita de níquel, 23% em zinco e algo parecido no alumínio, que é fabricado na maior fundição integrada do mundo, operada pela Cia. Brasileira de Alumínio (CBA). O único senão ficou na área de cimento: amargou um refluxo. "A demanda no Brasil cresceu só 1%, depois de uma queda de 10% no ano anterior", observou Carlos Ermírio. Para 2005, a previsão é de relativa melhoria, com alta de 5% a 6% no consumo. "Hoje, temos um portfólio de ativos bem mais equilibrado, com negócios grandes e em ciclo de crescimento", avalia José Roberto. Cimento, metais e papel e celulose responderam por 83% da receita. "O grupo concentrou-se, há muitos anos, em áreas em que o Brasil tem competitividade de custos para produção e competitividade no mercado internacional". Caso de metais, celulose e suco de laranja. Em cimento, com 42% do mercado nacional e capacidade disponível para atender o aumento da demanda interna, o grupo não vê cenário para crescer via aquisições. Os investimentos serão orgânicos, em novas fábricas e ampliação das atuais. A saída, uma vez que a exportação em alta escala encontra barreiras logísticas, é montar bases no exterior, o que o grupo já vem fazendo desde 2001. O desembolso em ativos na América do Norte alcançou US$ 1,3 bilhão e capacidade para produzir 6 milhões de toneladas. O objetivo é chegar a 10 milhões em pouco tempo. Esse modelo vai continuar, disse José Roberto. Além dessa região, o grupo analisa oportunidades na Índia e outros países emergentes com potencial para o negócio de cimento. Não será surpresa se o grupo repetir ou ficar próximo da marca de R$ 4 bilhões em novas aquisições em 2005. "Estamos atentos a todas às oportunidades", comentou. Em breve, ele viajará com um grupo de executivos para "olhar de perto" alguns ativos. "A meta é ter 50% da receita (exportações mais operações no exterior) em moeda forte até 2008." Chegou a 25% no ano passado. Para 2005, a refinaria de zinco do Peru e as duas novas fábricas de cimento nos EUA vão adicionar receitas na casa de US$ 300 milhões a US$ 350 milhões. As exportações devem ficar entre US$ 1,1 bilhão a US$ 1,2 bilhão. "Queremos ser um grupo com liderança regional, mas com posição de competitividade (de custos) de classe mundial", disseram os dois primos.