Título: Light tenta receber R$ 350 milhões
Autor: Cláudia Schüffner e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Empresas &, p. B3

Apesar de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ter concedido um reajuste extraordinário para a Light de 6,13% na média, a companhia só terá uma análise do impacto econômico-financeiro da medida sobre o seu caixa quando for divulgado o percentual de reajuste a ser aplicado por classe de consumo. Isso porque os 6,13% médios são resultado de reajustes diferenciados a serem aplicados sobre as contas de consumidores residenciais, industriais e comerciais. E esses dados só serão divulgados pela Aneel depois que a agência reguladora obtiver autorização do Ministério da Fazenda para conceder o reajuste, já que a na prática, a decisão fere o artigo 70 da Lei do Real, que impede aumento nas contas de consumo inferior ao prazo de 12 meses. Foi isso que explicou ontem o diretor de finanças e relações com investidores da companhia, Paulo Roberto Ribeiro Pinto. O executivo ressaltou que a empresa ainda tem o que chamou de "fragilidades operacionais no caixa", citando especificamente as perdas por furto de energia, entre outros - que no Rio equivalem a 24% da carga transmitida em função de questões como a violência, que impede o combate ao furto de energia em áreas de favelas. Ele citou o pesado índice de inadimplência, notadamente de empresas estatais e de órgãos públicos. Somada, a inadimplência atual é de R$ 350 milhões, sendo R$ 170 milhões devidos pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae); R$ 85 milhões pela Supervia; e outros R$ 85 milhões por prefeituras. Para reduzir essa inadimplência, a Light resolveu ir à Justiça contra os maus pagadores. Ela conseguiu liminar, logo derrubada, para desligar a sede da Cedae e agora Paulo Roberto Pinto diz que fará o mesmo com a Supervia. Frisando que o novo reajuste tarifário da Aneel não foi concedido para resolver o endividamento da empresa - "esse problema será sanado com outras medidas", frisa - o executivo da Light explicou que além do reajuste, a companhia vai juntar esforços para combater o roubo de energia e a inadimplência. "Essas ações somadas é que vão colocar a empresa em uma situação normal", disse. Ao anunciar o reajuste da Light, a Aneel explicou que três fatores foram levados em consideração. O primeiro foi a mudança na base de remuneração da Light, e que serve de referência para o cálculo das tarifas. O valor indicativo subiu de R$ 3,5 bilhões, patamar em que estava estacionado desde novembro de 2003, para R$ 4,3 bilhões, permitindo a cobrança maior de tarifas. O segundo fator tem a ver com os créditos acumulados pela distribuidora em PIS/Cofins. A Aneel já havia reconhecido um total de R$ 54 milhões dos R$ 147 milhões que a Light afirmava já ter desembolsado. Com a nova revisão, a agência elevou o reconhecimento para R$ 71 milhões. Em terceiro lugar, a Aneel decidiu antecipar e repassar para as contas de luz a segunda parcela da CVA. Na avaliação do analista Carlos Martins, do banco Brascan, o reajuste deve ter reflexo positivo sobre as ações da Light. Ressalvando que o reajuste vai garantir maior geração de caixa, ele avalia que, se o reajuste for confirmado, "poderá se configurar como um catalisador para as ações" da empresa no âmbito da renegociação da dívida junto aos credores privados, lembrando ainda que a empresa poderá assim obter empréstimo de US$ 250 milhões do BNDES.