Título: Reservas encostam nos US$ 30 bi
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, Finanças, p. C1

Mantido o atual ritmo de intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, as reservas internacionais líquidas chegarão nas próximas duas semanas a US$ 30 bilhões, o maior volume desde outubro de 2001. Nesta semana, segundo cálculos de economistas do CSFB, as reservas teriam atingido US$ 29,2 bilhões. O número oficial mais recente, referente a dezembro, registrava US$ 25,321 bilhões. Mas técnicos do BC e Tesouro Nacional informam que, com as novas captações soberanas e as aquisições em mercado, o volume se aproxima rapidamente da casa dos US$ 30 bilhões. Com esse montante, o Brasil retorna ao nível de reservas que tinha no período imediatamente anterior à crise das eleições presidenciais de 2002.

Ontem foi liquidada a emissão de bônus denominados em euros. Convertidos em dólares, devem engordar as reservas em US$ 650 milhões. Para hoje, informou o Tesouro, é aguardada a liquidação de US$ 1,25 bilhão da venda de bônus em dólar. Soma-se a esse fluxo os US$ 2,6 bilhões adquiridos em janeiro pelo BC, e a remuneração das reservas, que têm ficado em torno de US$ 100 milhões. Mesmo com os pagamentos da dívida em janeiro (cobertos parte com reservas e parte com compras do Tesouro por meio do Banco do Brasil), as reservas chegam a US$ 29 bilhões. É um volume bem menos confortável do que os US$ 74,656 bilhões que o Brasil teve em caixa em abril de 1998, maior valor já registrado na série histórica divulgada pelo BC, que começa em 1970. O economista Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria, pondera que os dois momentos não são diretamente comparáveis. "Pelo menos no mundo teórico, em um regime de câmbio fixo, o volume de reservas deve ser maior, para defender a taxa", disse. "No câmbio flutuante, o ajuste é pelo preço, então em tese nem precisaria haver reservas." Loyola ressalta que, no mundo prático, é importante manter um volume mínimo de reservas para sinalizar a capacidade de pagamento de um país. "As empresas de rating levam em consideração o volume de reservas ao atribuir níveis de risco às economias." O volume mínimo de reservas que o país deve manter é assunto controverso. Depende, em primeiro lugar, do conceito de reservas. Desde outubro de 1998, os analistas vêm acompanhando de perto as reservas líquidas, que excluem os empréstimos do FMI (o acordo limita o uso do dinheiro do organismo para suprir o mercado em casos de crises no balanço de pagamentos). Se o acordo, que termina em março, não for renovado, deverão ganhar importância as reservas brutas - que, em 2 de fevereiro, somavam US$ 54,183 bilhões. Pelo conceito de reservas líquidas, US$ 30 bilhões era o volume de reservas que o Brasil tinha quando foi atingido pela crise eleitoral de 2002. Os números se mostraram insuficientes: em dezembro daquele ano, caíram a US$ 14 bilhões, e nem por isso a taxa de câmbio deixou bater em R$ 4. "O volume de US$ 30 bilhões é razoável", opina Loyola. "Mas, havendo espaço, seria bom que fosse elevado." O custo dessa política de acumulação de reservas, afirma, é a diferença entre os juros internos e externos - o governo tem de emitir dinheiro ou títulos para adquirir dólares. Loyola pondera que não se deve só observar os custos de manter as reservas, mas também o que o país ganha ao sinalizar melhor capacidade de pagamento.