Título: Mais livro para todos
Autor: Osvaldo Siciliano
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2005, EU & FIM DE SEMANA, p. 3-7

Osvaldo Siciliano: Como surgiu a idéia do Plano Nacional do Livro e Leitura? Galeno Amorim: Para que o Brasil - que hoje em dia lê apenas 1,8 livro por habitante/ano, o que é muito pouco - dê o grande salto para se tornar uma nação mais justa e desenvolvida, não é suficiente apenas implementar um ou outro bom projeto, por melhor que eles sejam. É necessário que o país tenha uma ampla Política Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas, com papéis bem definidos para governos, empresas e sociedade. Isso ficou claro durante os seis meses em que, no ano passado, percorremos o país numa inédita mobilização de escritores, editores, livreiros, bibliotecários, educadores, ONGs e gestores culturais, para debater as saídas para começar a mudar esse quadro. Siciliano: De que forma o plano pretende concretizar a meta de aumentar em 50% o número de leitores em três anos? Foto: Julio Bittencourt/Valor

Osvaldo Siciliano, presidente da CBL, indaga sobre a linha de crédito para editoras Amorim: Com projetos de caráter permanente, desenvolvidos pelo governo federal, estados e prefeituras e com recursos próprios, que se somam às ações implementadas pelo setor privado e Terceiro Setor, que sempre estiveram presentes, mas agora estão muito dispostos a integrar e otimizar ainda mais suas atividades. Basicamente, é preciso ter políticas em escala e com a visão republicana de inclusão, para democratizar o acesso ao livro e outras formas de leitura; investir em formação dos agentes multiplicadores (professores, bibliotecários e voluntários); as campanhas de valorização do livro e da leitura no imaginário coletivo; e as iniciativas para apoiar a cadeia produtiva e criativa do livro. Siciliano: A concessão de linhas de crédito especiais para editoras e livrarias está próxima de ser obtida? O que mais o governo tem em mente desenvolver em prol do setor? Amorim: A idéia é criar várias linhas e produtos para contemplar a grandiosidade, mas também a rica diversidade existentes no setor editorial e livreiro do Brasil, um dos mais expressivos do mundo. O BNDES e bancos estatais estão trabalhando com afinco para criar programas de apoio às pequenas, médias e grandes editoras e livrarias a partir da visão várias vezes reiterada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus ministros, de que a questão da leitura - e, portanto, da indústria do livro - é estratégica para este governo. Por isso, também se trabalha para viabilizar programas de apoio à abertura de mil novas livrarias a partir deste ano, que se somará à abertura de novas bibliotecas e uma intensa campanha de estímulo à leitura. Isso tudo criará condições para ampliar as tiragens e baratear o preço do livro ao consumidor. Siciliano: Que avaliação faz das editoras e livrarias brasileiras? Amorim: Estudos sérios mostram que elas são competentes e altamente competitivas. E vivem período de crescente profissionalização, que dará um novo impulso a esse mercado. Siciliano: Que livro você está lendo? Amorim: Estou lendo "Memórias de Mis Putas Tristes", do Gabriel Garcia Marques, e "A Conturbada História das Bibliotecas", do Mathew Battles, e relendo "O Menino Marron", do Ziraldo, com meu filho (li Neruda para ele na primeira noite depois que saiu da maternidade e hoje, 12 anos depois, embora seja um leitor contumaz, ainda adora que faça isso). E cultivo o hábito de ler, ao dormir e ao acordar, trecho de algum livro que trate de meditação ou questões espirituais.