Título: IPCA-15 surpreende com desaceleração mais lenta
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2008, Brasil, p. A3

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) variou 0,64% em fevereiro, pouco acima das projeções de economistas, que estimavam índice entre 0,5% e 0,6%. No acumulado de 12 meses, a alta chega a 4,74%, ante 4,55% em 12 meses encerrados em janeiro. No bimestre, o IPCA-15 subiu 1,34%, maior variação para o período desde 2005, quando atingiu 1,43%.

O núcleo de médias aparadas com suavização, que é usado pelo Banco Central para acompanhamento da inflação no país, acumula em 12 meses variação de 4,14%, segundo cálculo da SLW Asset Management. Essa metodologia dilui o impacto de aumentos sazonais - como reajuste de material escolar, que ocorre agora - em 12 meses.

O IPCA-15 e o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), seguem trajetória de desaceleração em ritmo mais lento que o esperado para o período. Por enquanto, as consultorias mantêm a projeção de inflação para o ano entre 4,5% e 4,7%.

Para Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista-chefe da SLW Asset Management, o quadro atual é 'desconfortável'. "Os núcleos estão se acelerando. No nível atual, qualquer choque de oferta pode elevar o IPCA acima da meta do Banco Central", afirma. O núcleo apurado em fevereiro (veja o gráfico) é quase igual ao verificado em fevereiro de 2007 (4,15%).

A diferença, observa Gomes, é que no ano passado o núcleo estava em desaceleração, ao contrário do que ocorre neste ano. "No cálculo por exclusão, o núcleo da inflação passou de 2,91% em fevereiro de 2007 para 4,35% agora. A alta se generalizou. E os preços estão aquecidos por mais tempo do que se esperava", diz o economista.

Na avaliação de Gomes, os preços de alimentos, que desaceleraram em fevereiro, voltam a subir em março no varejo, dada a alta registrada no atacado. Para o ano, ele projeta a inflação em 4,7%. "Se não houver desaceleração da economia neste ano, a situação ficará difícil em 2009 e aí o Banco Central terá de intervir", prevê Gomes.

De acordo com o IBGE, a alta de 0,64% do IPCA-15 foi sustentada pelo aumento de 1,13% em alimentação e bebidas e de 3,61% no grupo educação. Juntos, eles responderam por 80% da taxa de inflação do mês. "Excluindo o grupo educação [que respondeu por 0,25 do índice cheio], a inflação fica bem próxima da registrada pelo IPC-S do dia 15", compara André Furtado Braz, economista da FGV.

Na semana do dia 15, o IPC-S variou 0,48%. Braz observa que o reajuste nos preços de educação são absorvidos pelo IPC-S em janeiro, o que explica a diferença entre o índice da FGV e o apurado pelo IBGE. Na semana do dia 22, o IPC-S variou 0,23%, tendo como principais fatores para o decréscimo as reduções nas taxas dos grupos alimentos (de 0,88% para 0,11%) e educação (de 1,17% para 0,93%). Para o economista, a variação do IPCA-15 pouco acima do esperado é resultado de fatores sazonais. Ele observa que os preços de alimentos desaceleraram nas últimas semanas, assim como preços de combustíveis. Ele considera difícil que a alta de preços agrícolas no atacado seja repassada para o varejo. "Alguns produtos, como o feijão, já subiram mais de 100% e se subirem mais, vai inibir o consumo. O mais provável é que alguns aumentos sejam absorvidos pela cadeia", diz.

De acordo com o departamento de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, a inflação de serviços ficou no mesmo nível do registrado em fevereiro de 2007. Havia uma expectativa de que preços administrados (combustíveis, energia elétrica, telefonia, medicamentos, educação) subiriam mais, já que são reajustados pelo IGP-M. Em 2007, o índice variou 7,89%, ante 3,79% em 2006.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, também destacou a deflação no grupo vestuário, por conta das liquidações feitas geralmente pelo varejo nessa época. "Não vejo pressões para fevereiro e março. É possível que a alta de commodities no exterior seja repassada ao mercado interno e em algum período a inflação acumulada de 12 meses supere 5%. Mas no ano não haverá estouro da inflação", diz. Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores, acrescenta: "Com o câmbio se valorizando, os preços no país dessas commodities podem acabar se mantendo iguais", conclui.