Título: China e Índia apóiam Brasil na OMC
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Brasil, p. A5

As preferências dos países sobre quem deve dirigir a Organização Mundial de Comércio (OMC) nos próximos anos começam a ser manifestadas publicamente, colocando novos ingredientes numa disputa que só deverá terminar por volta do mês de maio. Os embaixadores da China e da Índia confirmaram sem rodeios diplomáticos que seus países apóiam o candidato brasileiro Luiz Felipe Seixas Corrêa, colocando os três principais países em desenvolvimento no mesmo lado nessa disputa. Os indianos rejeitaram em Genebra artigo publicado na imprensa em Nova Délhi dando conta de uma suposta inclinação indiana pelo candidato europeu Pascal Lamy, o que de fato seria uma surpresa enorme. Já a África do Sul, outro país chave nessa disputa, diz que não teria dificuldades em apoiar o Brasil, mas que se encontra em posição delicada porque o continente africano decidiu apoiar o candidato de Maurício, Jaya Krishna Cuttaree. Por sua vez, a Austrália, líder do Grupo de Cairns, que reúne 17 países exportadores agrícolas, incluindo os do Mercosul, confirmou oficialmente seu apoio ao uruguaio Carlos Perez del Castillo. "Castillo tem as credenciais para o cargo", justificou ontem o embaixador australiano David Spencer. O embaixador brasileiro Luiz Felipe Seixas Corrêa também acelerou a campanha nos últimos dias. Na semana passada, esteve no Senegal e agora prepara-se para ir a Ruanda, país que está na presidência da Unidade dos Países Africanos. Em seguida, deve ir aos Estados Unidos para encontrar representantes da administração George W. Bush. Analistas consideram que os Estados Unidos tendem a apoiar Lamy. Mas a questão mais importante em círculos próximos da Organização Mundial do Comércio é se, afinal, terão resultado as pressões para que o futuro governo uruguaio retire seu apoio a Castillo, deixando Seixas Corrêa como único representante da América Latina. Parece claro que, se os dois continuarem na corrida, podem vir a neutralizar suas posições, facilitando uma vitória do europeu Lamy. Oficialmente, o governo Tabaré Vasquez diz que continua firme com Castillo. Já em Brasília as informações são de que articulações "no mais alto nível" vão continuar para que o Uruguai abandone seu candidato. Até agora, contudo, Castillo garante contar com um número expressivo de apoio, a começar pela Argentina e o resto da América Latina (com exceção de Cuba e Venezuela). Mas a realidade, notam fontes do Itamaraty, é que a briga na OMC envolve não apenas os apoios mas também o grau de rejeição de cada candidato. Nesse capítulo o uruguaio pode estar em desvantagem. Além do Brasil, outros países do G-20 podem manifestar rejeição a Castillo, neutralizando o suporte que ele recebe de outros. Em relação ao candidato brasileiro, em geral os negociadores dizem que não encontram nenhuma dificuldade com ele.