Título: Alca não sai antes de 2007, diz ex-secretário dos EUA
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Brasil, p. A5

Dificilmente a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) entrará em vigor antes de 2007. Embora não haja confirmações oficiais, informalmente já se considera que as negociações da Alca não poderão terminar antes de dezembro de 2006, prazo estabelecido para o fim da Rodada Doha. O ex-secretário da Agricultura dos EUA e ex-representante comercial (USTR) em governos republicanos Clayton Yeutter disse ontem que "dificilmente será possível concluir a Alca antes das negociações da Rodada Doha". O sub-representante comercial dos EUA, Peter Allgeier, preferiu não comentar o prazo quando perguntado sobre o assunto durante uma palestra esta semana em Washington. Yeutter advertiu que os países em desenvolvimento, incluindo o Brasil e o G-20, que lideram as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), terão que oferecer abertura de mercado à entrada de produtos agrícolas em troca da redução substancial do subsídio concedido aos produtores agrícolas de países desenvolvidos. "Para conseguir a aceitação dos produtores, teremos que oferecer alternativas de novos mercados para as exportações", disse o ex-ministro americano, que hoje é conselheiro do escritório de advocacia Hogan & Hartson. O Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês) reuniu ontem quatro dos ex-representantes comerciais (espécie de ministros do comércio exterior) para discutir os principais desafios dos EUA na negociação comercial no segundo mandato do governo George Bush. Yeutter acredita que será possível atingir um acordo se houver abertura de mercados em todos os países. A abertura à importação agrícola não seria problemática para o Brasil, mas poderia afetar a disposição negociadora da Índia, por exemplo, um dos parceiros do Brasil nas negociações na OMC. O maior desafio, segundo Yeutter, será evitar a criação de brechas que coloquem o acordo da Rodada Doha em risco. Um exemplo seriam as listas de "produtos sensíveis" que ficariam excluídos da negociação, o que corresponderia excluir açúcar nos EUA, arroz no Japão e assim por diante. Também deveria haver um teto para tarifas de importação de produtos além de cotas pré-determinadas. Sobre o subsídio a produtores agrícolas, o ex-ministro sugere uma mudança que desvincularia a concessão de recursos da produção, mas continuaria com o desembolso para os produtores. A sugestão é transferir o dinheiro hoje pago pelo Tesouro dos EUA para produção a programas de conservação ambiental, por exemplo. Não se sabe como isso seria recebido pelos países em desenvolvimento. O embaixador brasileiro Roberto Abdenur participou da discussão afirmando que os EUA, apesar de terem concedido há anos abertura de mercado a produtos industriais chineses, agem em negociações comerciais com outros países como "reféns" dos produtores agrícolas locais. A ex-representante comercial (USTR) do governo Clinton, Charlene Barshevsky, falou sobre o desafio representado pela China, afirmando que os ímpetos protecionistas nos EUA não vão mudar o gigantesco papel assumido pelo país asiático no comércio mundial. Barshevsky acredita que os EUA deveriam cortar o déficit público e depender menos do financiamento externo da dívida, especialmente do Banco Central chinês.