Título: Preços elevam compra de combustíveis
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2008, Brasil, p. A4

A forte alta dos preços de petróleo tem papel decisivo na disparada das importações de combustíveis e lubrificantes neste começo de ano. Nas quatro primeiras semanas do mês, a média diária das compras externas ficou em US$ 120,4 milhões, 68,9% a mais do que em fevereiro do ano passado e 45,1% a mais do que em janeiro deste ano. Com o petróleo na casa de US$ 100 o barril, a tendência é que a alta das cotações seja o principal fator a explicar o aumento das importações de combustíveis em 2008. No ano passado, a expansão das compras se deveu mais à elevação das quantidades importadas do que à subida dos preços.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, nota que, a partir do quarto trimestre de 2007, os preços das importações de combustíveis aumentaram com força. Depois de subir 5,1% em setembro em relação ao mesmo mês do ano anterior, cresceram 18,4% em outubro, 37,2% em novembro e 48,1% em dezembro, de acordo com números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). No acumulado do ano, a alta foi de 11%, menor que os 19,9% das quantidades importadas.

"Ainda não há números sobre a evolução de preços e quantidades da balança comercial deste ano, mas os preços em alta devem explicar grande parte do crescimento das compras externas de combustíveis e lubrificantes em janeiro e fevereiro", diz Vale, lembrando que o petróleo tem atingido níveis recordes.

Levantamento do Valor Data mostra que, do começo do ano até ontem, as cotações dos contratos do petróleo Brent ficaram em média em US$ 92,77 o barril, 64,6% a mais do que o registrado no mesmo período do ano passado.

Com a economia bastante aquecida, é provável que os volumes importados também tenham crescido, diz Vale. A questão é que as quantidades oscilam muito a cada mês. Em novembro, cresceram 4,8% em relação a novembro de 2006, ao passo que, no mês seguinte, a alta foi de 57,1%.

Para o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, é esse comportamento errático das importações de petróleo que torna difícil dizer se os números atingidos em fevereiro devem se manter nos próximos meses. "É algo que oscila muito a cada mês, sempre foi assim", afirma ele, para quem as taxas de crescimento devem ser menores no segundo semestre, quando a base de comparação será maior. De janeiro a junho de 2007, as importações mensais de combustíveis ficaram entre US$ 1,13 bilhão e US$ 1,5 bilhão, subindo para a casa de US$ 2 bilhões por mês na segunda metade do ano. Como Vale, ele também aponta a alta dos preços do petróleo como um dos fatores que empurram para cima as compras externas de combustíveis e lubrificantes.

Para Silveira, a balança comercial de petróleo e derivados deve ver seu déficit aumentar para US$ 5,8 bilhões em 2007 para algo próximo a US$ 6,5 bilhões neste ano. Por enquanto, ele mantém a previsão de um saldo comercial de US$ 35 bilhões, 12,5% abaixo dos US$ 40 bilhões do ano passado. Vale é mais conservador, estimando um superávit de US$ 28 bilhões, com viés de baixa, dado o forte ritmo de crescimento das importações, impulsionado por preços em alta, demanda interna aquecida e câmbio valorizado.