Título: Minas pressiona debate das alianças petistas
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2008, Política, p. A11

A articulação de coligações com a oposição em negociação nos municípios, especialmente em Belo Horizonte (MG), levou o PT a antecipar em um mês a reunião do Diretório Nacional para discutir e aprovar a política de alianças do partido nas eleições de outubro. Inicialmente prevista para o fim de abril, a reunião será agora realizada no dia 24 de março, uma segunda-feira.

A decisão ganhou urgência no PT com o avanço das conversas entre o governador tucano de Minas Gerais, Aécio Neves, e o prefeito petista de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, para a apresentação de um candidato de consenso dos dois partidos para a prefeitura da capital. A Executiva Nacional do PT, que se reuniu na terça e convocou o Diretório Nacional, é contrária ao acordo, que também começa a enfrentar resistências no PSDB.

Em linhas gerais, o Diretório Nacional já havia orientado o PT a "estabelecer alianças que, no âmbito local, ampliem a sua base política e social e, respeitando a correlação de forças em cada município, favoreçam a vitória eleitoral". A resolução dizia também que o partido devia levar em conta, "de modo articulado, os aspectos local, estadual e nacional presentes nas eleições municipais". No caso de Belo Horizonte a avaliação da cúpula petista é que a eleição municipal tem implicação na disputa nacional.

Se a cúpula petista é hostil a uma aliança com o PSDB, em Belo Horizonte, o atual prefeito, Fernando Pimentel sente-se estimulado pelo Palácio do Planalto a prosseguir as conversas. Aécio também tem conversado com a ministra Dilma Roussef (Casa Civil), que é mineira, sobre assuntos que vão além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas no governo, inclusive no Planalto, há oposição à aliança costurada por Aécio e Pimentel, casos, por exemplo dos ministros Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência, e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social).

Na realidade, o PT mineiro tem-se manifestado contrário à aliança, até porque o candidato do acordo sairia de uma terceira legenda, o PSB. Argumenta-se que talvez fosse até mais fácil costurar uma chapa entre os dois partidos, com PT ou PSDB na cabeça e o outro na vice, a partir de compromissos bem delimitados à política mineira. No PSDB também há oposição entre deputados federais e estaduais: nos termos negociados por Aécio, o PSDB ficaria sem a prefeitura e sem o governo estadual, posição que atualmente ocupa.

O acordo mineiro pressupõe que Pimentel concorreria ao governo estadual, em 2010, com o apoio de Aécio, que então seria candidato a presidente da República ou ao Senado, caso entre em acordo com o governador José Serra (SP) sobre a candidatura presidencial tucana. Ou seja, o PT ficaria com o governo estadual e o PSB com a prefeitura. Pelo lado petista, o acordo ignora a possibilidade de o ministro Patrus Ananias ser o candidato do partido ao governo do Estado. Ou ao Palácio do Planalto: em 2010, Minas será fundamental tanto para o petista como para o tucano que concorrer à Presidência.

Dois outros municípios, além de Belo Horizonte, também preocupam a cúpula do PT. Um deles é Vitória, capital do Espírito Santo, cidade governada por João Coser, prefeito petista. A exemplo do que ocorre em Minas Gerais, está em curso uma conversa para juntar PSDB e PT nas próximas eleições, sob as bençãos do governador pemedebista Paulo Hartung (cuja origem é tucana). Como se trata de um caso de reeleição, com um petista na cabeça de chapa, os dirigentes petistas parecem bem menos inflexíveis em relação a um acordo local. São contradições como essa que o Diretório Nacional terá de acomodar numa resolução a ser aprovada no dia 24 de março.

A exemplo de Vitória, o comando petista não parece muito incomodado com uma aliança ainda mais heterodoxa, para os padrões do partido, que o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, negocia com o Democratas, partido que sucedeu o antigo PFL, de sigla DEM cujos integrantes são chamados pelos petistas de "demos". Como em Vitória, Lindberg é candidato à reeleição, será o cabeça de chapa e precisa de ampliar apoios para se manter por mais quatro anos no cargo.

Ao tomar posse em janeiro, o novo Diretório Nacional do PT baixou uma resolução na qual estabelece as diretrizes que "as instâncias locais do partido devem considerar" na avaliação "das forças políticas presentes no cenário nacional". A resolução dá prioridade às alianças com os partidos de esquerda - PCdoB, PSB e PDT são citados nominalmente - e trata os demais partidos que integram a base aliada do governo como "potenciais aliados". PSDB e DEM são apresentados como partidos cujo projeto deve ser batido em 2010.

"Com base nesta resolução, vamos fixar um parâmetro nacional para todo o partido, ou seja, com quem podemos nos aliar, com quem devemos dar prioridade e com quem não devemos nos aliar", afirmou o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo. Outro integrante da cúpula partidária resumiu o dilema petista: o chamado respeito à "instância local" vai depender da importância da cidade e da repercussão nacional das alianças.