Título: Inflação em alta e confiança em baixa dificultam queda de juros nos EUA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2008, Internacional, p. A15

A inflação no atacado nos EUA deu um salto de 1% em janeiro, registrando o maior acumulado de 12 meses - 7,4% - desde 1981, enquanto os preços dos imóveis residenciais tiveram uma queda de 8,9% no quarto trimestre, a maior já registrada nos 20 anos. Esses dois dados se juntam a outras notícias negativas recentemente divulgadas, as quais acabaram influenciando a confiança do consumidor em fevereiro - caiu para seu menor patamar desde 2003, alimentando os temores de que os EUA já estejam em recessão.

Quanto à inflação no atacado, o IPP (Índice de Preços ao Produtor) teve alta de 1% após registrar uma deflação de 0,3% em dezembro (dado revisado). O núcleo da inflação (que exclui os preços de alimentos e energia), por sua vez, subiu 0,4% no mês passado, contra 0,2% um mês antes.

Os temores de que a inflação pode estar despontando faz crescer o receio de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) possa interromper sua trajetória de cortes de juros. Entre setembro de 2007 e janeiro deste ano, o banco efetuou cinco reduções na taxa - que caiu de 5,25% para 3%.

Os cortes ocorreram como forma do Fed fazer frente aos riscos de uma recessão: com juros mais baratos, o banco pretende estimular o consumo entre os americanos e a realizações de investimentos por parte das empresas.

A última vez em que a inflação no atacado esteve tão grande, no início dos anos 80, o Fed implementou uma alta de juros que levou países da América Latina, inclusive o Brasil, a beirar a inadimplência ou a pedir uma moratória.

O índice referente aos preços de energia teve alta de 1,5% no mês passado, após uma deflação de 3% em dezembro. Já os alimentos tiveram alta de 1,7% em janeiro, ligeira variação positiva em relação ao verificado um mês antes, 1,4%.

Já o índice de confiança elaborado pelo Conferencie Board caiu para 75,0 em fevereiro, contra dado revisado para baixo de 87,3 em janeiro. O componente sobre situação atual caiu para 100,6 em fevereiro, ante dado de 114,3 revisado para baixo em janeiro, enquanto o índice de expectativas recuou para 57,9 - o menor em 17 anos - contra 69,3 no mês anterior.

A deterioração na confiança foi expressiva. Foi a maior queda mensal nos índices de confiança e expectativas do consumidor desde setembro de 2005, após o furacão Katrina. O componente sobre a situação presente teve sua pior baixa desde outubro de 2001, quando os EUA estiveram em recessão pela última vez. A confiança foi atingida por uma pior perspectiva do mercado de trabalho. A medida dos "empregos difíceis de obter" subiu de 20,6 em janeiro para 23,8 no mês seguinte, patamar mais alto desde outubro de 2005.

A queda dos preços dos imóveis residenciais nos EUA, por sua vez, também foi recorde: a maior já registrada nos 20 anos em que o índice S&P/Case-Shiller é apurado.

O economista-chefe da MacroMarkets e um dos arquitetos do índice, Robert Shiller, disse que "para onde quer que se olhe [no mercado imobiliário] as coisas parecem fracas". Durante a recessão do período 1990-1991, os preços das casas chegaram a cair apenas 2,8%.