Título: Taxa de juro do crédito começa o ano em alta
Autor: Ribeiro , Alex ; Rodrigues , Azelma
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2008, Finanças, p. C3

A combinação de crise internacional com a elevação das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) provocou uma forte alta nos juros médios cobrados nos empréstimos bancários, que passaram de 33,8% para 37,3% ao ano em janeiro. Os dados preliminares de fevereiro indicam que, nos oito primeiros dias úteis do mês, os juros bancários subiram mais 1,1 ponto percentual. O encarecimento do crédito afetou tanto empréstimos a pessoas físicas quanto para empresas. No caso das operações com pessoas físicas, a alta foi mais forte - as taxas médias passaram de 43,9% para 48,8% ao ano em janeiro. No crédito a pessoas jurídicas, os juros passaram de 22,9% para 24,7% ao ano.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, disse ontem, ao apresentar as estatísticas, que a elevação das alíquotas de IOF incidentes sobre o crédito pesou na subida dos juros bancários, embora seja impossível medir com precisão o seu efeito. Para compensar a perda de arrecadação com o fim da cobrança da CPMF, o governo aumentou de 1,5% para 3,38% o IOF sobre o crédito.

Outros fatores que pesaram desfavoravelmente, disse Lopes, foram a crise internacional e o receio de uma possível elevação dos juros básicos da economia. Os juros bancários são afetados de duas formas. De um lado, pelo aumento dos custos de captação e, de outro, pelo aumento do risco de inadimplência. O custo médio de captação dos bancos subiu de 11,5% para 11,6% em janeiro. O "spread", que embute um prêmio para cobrir o risco de inadimplência, saltou de 22,3 pontos percentuais para 25,7 pontos percentuais.

Lopes disse que a forte demanda por crédito em janeiro - atípica para esse período - também puxou os juros médios. O total das operações contratadas com recursos livres subiu 1% no mês, chegando a R$ 529,3 bilhões. Em janeiro de 2006, havia crescido 0,6%.

O volume de crédito a pessoas físicas aumentou 2,5% no mês, chegando a R$ 246,5 bilhões. O crédito a pessoas físicas atingiu a marca histórica de 11,9% do Produto Interno Bruto (PIB). "Esse avanço do crédito não nos preocupa, porque a inadimplência está sob controle", disse Lopes. A inadimplência nas operações com pessoas físicas subiu levemente no mês, de 7% para 7,1%.

Outros dois fatores pontuais também contribuíram para a alta dos juros bancários em janeiro. Um deles foi a suspensão dos empréstimos consignados do INSS durante dez dias para fazer a transição para uma nova regra sobre o limite de comprometimento de renda com as operações (que passou de 30% para 20%, abrindo margem de 10% para operações consignadas com cartões de crédito).

Outro fator foi o fim de uma promoção que a Caixa Econômica Federal fez no fim de 2007 nos empréstimos consignados a servidores do Judiciário. A Caixa explicou que a promoção foi suspensa em janeiro porque é recesso do Judiciário e que, em fevereiro, foi retomada com taxas ainda mais baixas.

Lopes disse que ainda é cedo para afirmar que a alta de juros de janeiro e fevereiro vai se firmar como uma tendência. "Vamos ter que esperar os dados de março e abril para fazer uma análise mais embasada", disse.

O volume total de empréstimos no Brasil cresceu 0,9% de dezembro para janeiro, atingindo R$ 944,2 bilhões. A participação dessas operações no PIB ficou estável em 34,8% Considerando apenas os recursos livres, os empréstimos aumentaram também 0,9% no mês e 33,2% em doze meses, para R$ 667,9 bilhões.