Título: A portas fechadas, Lula tenta frear as ambições do PMDB na máquina
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2008, Política, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou ministros, dirigentes e líderes do PMDB com a intenção de "botar uma tranca na porteira" das ambições pemedebistas. O presidente confidenciou a aliados que está incomodado com a voracidade do partido em relação a cargos, especialmente alguns setores "que nunca estão satisfeitos", apesar de contemplados com bom espaço no governo. Lula intimou ministros pemedebistas a participar da reunião. José Gomes Temporão (Saúde), considerado um nome mais técnico que político, por exemplo, foi um deles.

Entre os setores que "nunca estão satisfeitos" Lula identifica, por exemplo, entre outros, o PMDB do Rio ligado ao ex-governador Anthony Garotinho. O deputado Eduardo Cunha, que integra o grupo, deixou na gaveta, por três meses, o projeto que prorrogava a CPMF, até o presidente se dobrar e nomear um indicado seu para a presidência de Furnas, Luiz Paulo Conde.

Nos últimos dias, Lula chegou a dar início a uma articulação para a renúncia de Conde da presidência de Furnas, mas recuou ao saber que ele se acha muito doente. Lula também não assimilou bem a indicação de Eduardo Cunha para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara. Entre aliados do presidente o que se diz é que, se Cunha foi capaz de paralisar a tramitação do projeto da CPMF, como relator da proposta, terá muito mais poderes como presidente da CCJ.

Mas Lula também está satisfeito e até surpreso com o desempenho de alguns pemedebistas que levou para o governo. Este é o caso do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que o presidente passou a avaliar como um "fazedor", sempre disponível e pronto para resolver os problemas.

Lula nomeou Edison Lobão (Minas e Energia) por indicação de José Sarney, e nos encontros que teve com o ministro ficou com a impressão de que ele, Lobão, acha que o presidente não gosta dele. A interlocutores Lula disse que não é o caso: não gosta nem desgosta; apenas não o conhece. Vai depender exclusivamente do maranhense a imagem que o presidente terá no futuro em relação ao ministro Edison Lobão.

Lula decidiu fazer a reunião de ontem para exigir solidariedade de "cada parlamentar ou grupo de parlamentar", segundo disse a um aliado. O presidente acha que a representação do PMDB já é um reconhecimento de sua expressão. São pemedebistas os ministros da Defesa (Nelson Jobim), da Saúde (José Gomes Temporão), da Agricultura (Reinhold Stephanes), da Integração Nacional (Geddel Vieira Lima) e das Minas e Energia (Edison Lobão).

Esses são apenas os integrantes do primeiro escalão do governo - o PMDB tem dirigentes indicados em todos os demais escalões da administração direta e das estatais. Anteontem, a disposição de Lula era a de não mais ceder em algumas exigências partidárias. Ele se inclinava, por exemplo, a atender a solução encaminhada por Dilma Rousseff (Casa Civil) para a presidência da Eletrobrás, contra uma indicação com a assinatura do senador José Sarney (PMDB-AP).

Lula acha que as demandas do PMDB por cargos se tornaram mais agressivas nas últimas semanas, sem que, em contrapartida, os pemedebistas tenham se tornado mais solidários com o governo. Pelo contrário, caiu o índice de fidelidade do partido na Câmara, onde o governo dispõe de maioria mais folgada.

Com a reunião de ontem, a intenção de Lula era demarcar um limite nas ambições pemedebistas, "botar uma tranca na porteira", na expressão usada com um interlocutor, e exigir solidariedade em relação aos projetos de interesse do governo em curso no Congresso. Entre eles, a votação do Orçamento Geral da União, a viabilização da proposta de reforma tributária e, particularmente, empenho na blindagem do governo na crise dos cartões corporativos.