Título: Shell mira aquisições na distribuição e área de biocombustíveis
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2008, Empresas, p. B12

A Shell está fora do processo de venda dos postos da Esso na América do Sul mas não descarta a possibilidade de buscar outras oportunidades de aquisições para continuar a crescer no mercado brasileiro de distribuição de combustíveis. Mas, por enquanto, a expansão da empresa no país deve ser garantida menos por aquisições e mais pela migração de postos chamados bandeira branca, como são identificados os estabelecimentos que não usam uma marca conhecida.

No ano passado, a companhia anglo-holandesa agregou 200 novos postos à sua rede. Muitas vezes, o negócio tem envolvido a assinatura de um contrato entre o dono do posto e a distribuidora pelo qual o proprietário se compromete a usar a marca da Shell (ou bandeira, no jargão do mercado) e a comercializar apenas os combustíveis fornecidos por ela em volumes previamente pactuados. Em troca, e dependendo da negociação, pode ganhar a reforma do posto, ou o pagamento do aluguel do imóvel, além da garantia de suprimento.

Rob Routs, diretor mundial da área de combustíveis, transportes, refino e petroquímica da Shell disse ao Valor que a companhia tem boas perspectivas de crescer "organicamente e muito rápido no Brasil", uma vez que carrega uma marca de respeito, que é bem vista pelos brasileiros e é reforçada por uma parceria com a Ferrari na Fórmula 1, o campeonato mundial de automobilismo. O presidente da Shell Brasil, Vasco Dias, diz que a companhia continua "buscando boas oportunidades de crescimento". Por aí, passam compras de ativos.

Routs evitou comentários sobre o processo de venda de ativos da Esso, que está ainda na fase de avaliação das propostas. Mas disse que a Exxon - controladora da distribuidora - não é a única companhia de petróleo a analisar seu próprio portfólio e a vender partes dele. Ele aponta exemplos. Em 2004, a Shell decidiu sair da América Latina, após ter vendido parte de suas operações no Brasil em 2001: foram transferidos 300 postos para Agip. Em 2006 vendeu toda a rede de postos no Paraguai, Uruguai e Colômbia para a Petrobras. Mas depois reviu sua estratégia e decidiu ficar apenas na Argentina, Brasil e Chile, os maiores mercados da região.

"Nos últimos três anos vendemos aproximadamente US$ 14 bilhões em ativos no mundo. Vendemos participações na Espanha, Portugal, Caribe, Romênia e América Latina. A Shell analisa oportunidades e decide se fica ou deixa", informou Routs.

O executivo evitou falar mais detalhes sobre a operação da concorrente. Destacou que no Brasil, "os negócios da Shell vão bem". Uma área de grande interesse da multinacional no país é a de biocombustíveis. A companhia comercializa 5 bilhões de litros de etanol para os mercados da Europa e Ásia, o que tem trazido bons resultados financeiros. No Brasil, a Shell compra anualmente 1,8 bilhão de litros de álcool contratados de grandes usinas como a Cosan e a Cooperçúcar e foi a primeira a comprar biodiesel em leilões. E vê agora oportunidade de aumentar as compras para ampliar as vendas de álcool para outros mercados, aproveitando sua estrutura de logística e comercialização de combustíveis.

-------------------------------------------------------------------------------- Companhia faz estudos para extrair etanol no país a partir do bagaço da cana usando em processo de co-geração --------------------------------------------------------------------------------

No momento, a anglo-holandesa tem grande interesse em novos processos de produção de biocombustíveis. E estuda produzir a álcool a partir do bagaço da cana-de-açúcar utilizando enzimas em um processo de co-geração. Vasco Dias diz que a Shell pode, eventualmente, se associar a um grande produtor de álcool.

Na busca por novos biocombustíveis, a empresa pesquisa junto com a HR Biopetroleum a produção de combustível a partir de algas no Havaí (EUA). "Elas crescem rápido em água salgada e não competem com consumidores de água potável", informou Routs. O discurso segue a nova onda verde que arrebata a indústria de petróleo no mundo na busca por combustíveis não poluentes para reduzir as emissões que agravam o efeito estufa.

O diretor da Shell afirma que para reduzir o processo de aquecimento global as empresas terão que buscar fontes sustentáveis de energia alternativas aos hidrocarbonetos mas que não sejam originárias da queima das grandes florestas nativas no Brasil ou Malásia, ou de trabalho infantil. As empresas precisam se adequar rápido às exigências da União Européia, que até 2020 vai obrigar compulsoriamente a mistura de 10% de biocombustíveis nos veículos utilizados pelo setor de transportes.

A Shell teve lucro de US$ 27,6 bilhões no ano passado. No Brasil, a companhia anglo-holandesa fechou 2007 com uma participação de 12,6% no mercado total de combustíveis. Esse percentual sobre para 15% se forem considerados apenas o mercado das maiores empresas, reunidas no Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom). Ela é menor apenas que a BR Distribuidora, da Petrobras, que tem 39% do mercado total de combustíveis no Brasil se incluídos os postos da Ipiranga que ainda não foram incorporados.

Questionado sobre sua opinião a respeito da onda nacionalista na América Latina, Routs respondeu com um sorriso. "Olhando o passado tivemos períodos difíceis, com altos e baixos em termos de rentabilidade. Mas poucas empresas no mundo sobreviveram cem anos e temos bastante experiência", respondeu o executivo. O Grupo Shell completa 101 anos em 2008. E em abril completa 95 anos de operações no Brasil.