Título: Fundos estimulam alta do açúcar nas bolsas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2008, Agronegócios, p. B18

No início, analistas de mercado acreditavam se tratar de um "vôo de galinha". Mas à medida que o tempo passa, os fundos continuam firmes em suas posições em açúcar, tornado novamente a commodity atrativa.

Relatório da banco holandês Rabobank mostra os preços do açúcar seguem firmes, sustentados somente pelos fundos de investimentos. Se não fosse o efeito dos fundos no mercado, as cotações provavelmente estariam em patamares mais baixos, considerando que o cenário de oferta e demanda do açúcar é superavitário. Brasil e Índia, os maiores produtores mundiais da commodity, elevaram a oferta do produto no mercado.

No ano passado, segundo o relatório, a receita das usinas brasileiras recuaram fortemente, atingindo patamares não vistos desde a safra 1999/00, quando o setor passava por uma forte crise de preços. Desde o final do ano passado, contudo, os fundos de investimentos começaram a fazer hedge nos mercados de commodities, impulsionando os preços de várias matérias-primas, entre eles o açúcar.

Neste ano, as cotações futuras do açúcar acumulam valorização de 31,5% e alta de 35,4% nos últimos 12 meses, segundo o Valor Data. Em 24 meses, a commodity registra desvalorização de 12,6%.

"Os fundos varreram os fundamentos do açúcar para debaixo do tapete", afirmou Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting. Até o ano passado, Corrêa trabalhava com a expectativa de que os preços do açúcar ficariam entre 11,5 e 12,5 centavos de dólar por libra-peso. "Obviamente, muitos erraram. Só não sabemos ainda o limite de alta para os preços do açúcar agora."

Ontem, os contratos do açúcar para maio encerraram a 14,63 centavos de dólar por libra-peso, alta de 9 pontos, em Nova York.

O movimento de alta do açúcar está dificultando as operações de fixação de preços entre usinas e tradings. As tradings estão desestimuladas a fazerem as operações de hedge por conta dos altos custos das operações por conta das chamadas de margem. Ou seja, o custo entre a diferença dos preços fixados e o que vale no dia da entrega do produto. "Mas ao não fazer as fixações, os fundos voltam-se mais para o mercado", afirmou Corrêa. Segundo ele, a alta dos preços da commodity poderá estimular a maior produção de açúcar no Brasil e em outros países. "As usinas brasileiras devem produzir mais açúcar do que o planejado." (MS)