Título: Subsídio a medicamentos custará US$ 720 bi nos EUA
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2005, Internacional, p. A7

Uma despesa inesperada ameaça pressionar ainda mais o déficit fiscal dos EUA. O governo divulgou ontem uma revisão das estimativas de custo do subsídio a medicamentos do Medicare (o programa de saúde pública para pessoas acima de 65 anos): os benefícios do custarão US$ 720 bilhões em dez anos. Um aumento significativo em relação aos US$ 400 bilhões que o Congresso previra ao aprovar o subsídio, em 2003. A média de US$ 72 bilhões anuais equivale aproximadamente aos gastos totais das operações militares americanas no Iraque no ano passado. Assim, os EUA gastarão um Iraque por ano nos próximos dez anos com o subsídio. No ano passado, a Casa Branca já havia revisto o valor do programa, estimado-o em US$ 511 bilhões, sob alegação de que atualizara os custos usando dois anos de cobertura total de medicamentos, o que a lei inicial não previra. O Medicare cobrirá a partir de 2006 as despesas de medicamentos de quem aderir ao programa e pagar US$ 35 por mês, com US$ 250 dedutíveis do imposto de renda por ano, além de outras taxas. Essa é a maior expansão dos programas de saúde estatais desde que foram criados, em 1965. O presidente George W. Bush, que pressionou pela aprovação do subsídio no Congresso, usou o programa como um dos pilares de sua campanha pela reeleição. Críticos dizem que o custo foi deliberadamente subestimado à época para que o programa fosse aprovado pelo Congresso. O governo nega. "O risco real para os republicanos não é o custo do benefício, mas o de que os cidadãos mais velhos da classe média comecem a achar o benefício muito custoso para aderir a ele", diz Alec Vachon, ex-assistente do Comitê de Finanças do Senado e que hoje preside uma consultoria política. No Congresso, tanto republicanos quanto democratas disseram que a legislação precisa controlar os custos do programa. "Tenho grande desconfiança em relação aos custos desse programa", disse o senador republicano Judd Gregg, presidente da Comissão de Orçamento do Senado. Para ele, talvez o Congresso tenha de rever o programa. O senador republicano Jeff Sessions disse se sentir "enganado" pelos custos. "Não achávamos que iríamos criar um programa sem limites, que fosse crescendo fora de controle." A líder da oposição democrata na Câmara, Nancy Pelosi, disse que o Congresso deveria rever a legislação e permitir que o Medicare usasse seu poder de compra para diminuir o preço dos medicamentos, uma proposta que os republicanos consideram inadmissível. O preço dos medicamentos nos EUA é dos mais altos do mundo. Atualmente há várias propostas sendo discutidas para reduzir os gastos, como a permissão para importar medicamentos pela internet. Muitos americanos já recorrem a compras no Canadá para reduzir a conta com medicamentos. Quando da aprovação do subsídio, a oposição democrata disse que os maiores beneficiários seriam as empresas farmacêuticas, que poderiam continuar praticando nos EUA preços acima da média dos países ricos. A indústria farmacêutica foi uma das maiores doadoras para a campanha de reeleição do presidente Bush. A senadora democrata Dianne Feinstein pediu à Comissão de Finanças do Senado que investigue como a Casa Branca chegou à nova estimativa. Ela disse que o caso que aparentemente houve "uma tentativa de enganar o Congresso". A aprovação do subsídio passou na Câmara por 220 votos a 215. Provavelmente a Câmara não a aprovaria se soubesse dos custos reais. O caso pode dificultar a aprovação da reforma da Previdência proposta por Bush, tanto por elevar o já pressionado déficit fiscal como por desacreditar as estimativas iniciais de custo feitas pelo governo.