Título: Indicadores sugerem trimestre aquecido
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2008, Brasil, p. A4

Os indicadores de atividade industrial dão indícios de que a produção no país no primeiro trimestre crescerá com o mesmo ímpeto verificado nos últimos três meses de 2007. Em São Paulo, Estado que representa em torno de 40% da produção industrial no país, a expectativa é de que o setor cresça até março acima dos 8% registrados no país entre outubro e dezembro.

O Indicador do Nível de Atividade (INA) da indústria de transformação paulista, apurado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), apontou crescimento de 2,2% em janeiro ante dezembro, já com ajuste sazonal. Na comparação com janeiro de 2007, o aumento foi de 11,3%.

Em 12 meses, o INA acumula alta de 6,6%, 0,6 ponto percentual acima do apurado nos 12 meses encerrados em dezembro. "Nos três meses findados em janeiro, o crescimento foi de 9%, contra 8% no trimestre encerrado em dezembro. É um sinal de que a atividade industrial continua se acelerando", disse Paulo Francini, diretor do Departamento Econômico da Fiesp.

O Sensor Fiesp, que procura antecipar o desempenho das indústrias no mês corrente, aponta elevação na atividade em relação a janeiro, com o índice geral passando de 52 para 53,9 pontos. O indicador também supera os dados de fevereiro de 2007 e do último trimestre do ano. Pelo Sensor, 55,6% dos empresários esperam aumento da produção e 66,7% prevêem elevar as vendas. Francini associa o otimismo à demanda aquecida por conta do incremento na oferta de crédito e na massa salarial.

Em janeiro, o setor que mais cresceu em São Paulo foi o de veículos automotores, com elevação de 5,2% sobre dezembro (com ajuste sazonal). Em 12 meses, no entanto, a alta é de 6,72%, diante de 22,87% no restante do país. Francini observou que o setor automotivo paulista voltava-se mais à exportação, o que explica a diferença em relação ao índice nacional, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Ao longo de 2007 houve ajustes e agora o INA se aproxima mais do dado geral", disse. Ainda assim, a Fiesp prevê para a produção nacional desempenho superior à paulista.

Para Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), indicadores antecedentes, como produção de papelão e tráfego de veículos, indicam que a atividade industrial no primeiro trimestre crescerá pelo menos no mesmo nível que o quarto trimestre do ano passado. "Os dados do varejo também indicam um bom movimento neste início de ano", acrescentou Almeida. Levantamento da Serasa apontou crescimento de 9,5% nas vendas do varejo no país em janeiro, comparado ao mesmo intervalo de 2007.

Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, observa que alguns sinais macroeconômicos também indicam aceleração, como o aumento das importações em 50% no trimestre encerrado em fevereiro (contra o intervalo de novembro a janeiro), expansão da massa real de salários - que, segundo o IBGE, cresceu 17,8% em dezembro ante novembro, para R$ 31,5 - e elevação do uso de capacidade instalada. Em São Paulo, o nível de uso ficou em 81,9% em janeiro, o mais alto da série iniciada em 2001.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aposta em um crescimento da produção industrial no país em janeiro de 8,5%, na comparação com igual intervalo de 2007, de 1,7% sobre dezembro (dessazonalizado). E para o trimestre, incremento próximo a 8%. Além dos indicadores antecedentes favoráveis (mais no gráfico), o Ipea leva em conta os estoques baixos das indústrias e a demanda ainda aquecida no mercado interno. "Tudo leva a crer que as indústrias no primeiro trimestre terão um desempenho pelo menos similar ao dos últimos meses de 2007", afirmou Leonardo Mello de Carvalho, economista do Ipea.

Para Carvalho, janeiro pode ser o mês mais expressivo do trimestre, devido à decisão de indústrias em reduzir férias coletivas para recompor estoques. "Se mais indústrias operam os 30 dias de um mês em que normalmente param, o indicador se eleva e pode haver alguma distorção", observou.

Conforme dados da Fiesp, em janeiro, o total de horas trabalhadas aumentou 0,7% ante dezembro e o total de vendas caiu 9,7%. Essa relação, segundo Francini, da Fiesp, pode indicar que houve alguma recomposição de estoques. De acordo com o economista, o dado sobre horas trabalhadas também indica que boa parte das indústrias elevou a produção sem renovação de maquinário ou abertura de fábricas. "É possível que parte dos investimentos em formação de capital ainda não tenha entrado em operação", afirmou.