Título: IGP-M desacelera, mas preços industriais mantêm alta
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Fonte: Valor Econômico, 29/02/2008, Brasil, p. A5

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) recuou em fevereiro, fechando em 0,53%, abaixo do 1,09% do mês anterior. As cotações agrícolas no atacado mostraram forte desaceleração, assim como os preços ao consumidor. Já as cotações industriais no atacado se mantiveram em níveis elevados. Nos últimos 12 meses, o IGP-M acumula alta de 8,67%, o que deve provocar um reajuste maior neste ano nas tarifas e nos contratos reajustados pelo indicador, como os aluguéis, avalia o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

O resultado de fevereiro ficou em linha com a expectativa dos analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC), que projetavam um IGP-M de 0,52%. Os preços agrícolas no atacado exibiram um comportamento bastante benigno, com alta de apenas 0,23% - no mês passado, a variação atingira 2,31%.

O economista Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg & Associados, destaca o forte recuo dos preços do milho, que tiveram queda de 11%. As cotações das aves também colaboraram para a queda da inflação agrícola no atacado, ao registrar baixa de 9,51%. O IGP-M reflete a variação de preços entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência.

No caso do IPA industrial, as notícias não foram boas. O indicador subiu 0,8%, alta quase idêntica ao 0,82% registrado em janeiro. Azevedo diz que o subgrupo produtos alimentícios e bebidas segue pressionado. Teve alta de 1,04% em fevereiro. O óleo de soja, por exemplo, subiu 7,1%, reflexo da elevação dos preços da commodity. As cotações de adubos e fertilizantes também continuam a aumentar bastante: tiveram alta de 3,12% em fevereiro, o que jogou para 54,6% o reajuste em 12 meses. "O forte crescimento da agricultura explica esses aumentos. A demanda por adubos e fertilizantes está forte."

Para Azevedo, o IPA industrial tende a continuar em patamares elevados nos próximos meses. Ele lembra que o forte aumento dos preços do minério de ferro obtido pela Vale do Rio Doce terá impacto no indicador nos próximos meses.

A LCA Consultores nota, porém, que o núcleo dos preços industriais no atacado teve uma desaceleração em fevereiro. Calculado pela exclusão de produtos alimentícios, bebidas, combustíveis e extrativa mineral, o núcleo subiu 0,68%, abaixo do 0,74% apurado no IGP-M de janeiro e também inferior ao 0,85% do IGP-10 de fevereiro (que mede a inflação nos 30 dias terminados no dia 10).

A LCA também ressalta a forte desaceleração das cotações no varejo. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) teve alta de 0,26%, bem abaixo do 0,96% do mês passado. "Praticamente todos os grupos que compõem o IPC desaceleraram, com exceção do de despesas diversas", afirmam os economistas da consultoria.

O principal responsável pela queda foi o grupo alimentação. Depois de subir 2,25% em janeiro, a alta em fevereiro foi de apenas 0,21%. "Outro significativo fator de alívio que vale a pena ser lembrado foi a diluição do impacto advindo dos reajustes de mensalidades escolares", afirma a LCA, que projeta um IGP-M de 4,4% neste ano. Em 2008, o indicador acumula variação de 1,63%. A consultoria diz, no entanto, que essa projeção pode ser revista nos próximos dias, devido à reavaliação das estimativas de "algumas commodities, principalmente as metálicas não ferrosas e as agrícolas". O risco é de que esses produtos se mantenham em níveis pressionados por mais tempo. Azevedo, por sua vez, prevê um IGP-M de 5,3% a 5,4% neste ano.

Para Quadros, nos próximos dois meses se terá mais clara a noção do tamanho da desaceleração do IGP-M. Ele acredita que no segundo semestre haverá espaço para a taxa começar a cair novamente. "O IGP no final deste ano vai ser menor do que temos agora".

Ainda que os produtos agrícolas e de alimentação estejam no centro das atenções quanto à trajetória da inflação neste ano, o professor da FGV afirma que o movimento de preços não deverá ser tão fortemente marcado por eles quanto foi em 2007. No acumulado do ano passado, o IGP-M fechou em 7,75%, a maior elevação desde 2004. "Em 2008, a inflação será redistribuída, será um pouco mais democrática. Os alimentos vão ceder espaço como estrela da inflação para serviços públicos, energia e telecomunicações."

Segundo ele, as tarifas, sobretudo de energia, devem fazer a diferença neste ano, ao contrário de 2007, quando os contratos foram revistos e houve redução de tarifa. "As tarifas voltam a ser corrigidas. Os processos mais imediatos de indexação com IGP-M vão ficar na faixa de 8%."

Salomão descarta, no entanto, que a inflação fuja ao controle neste ano. "A inflação não vai sair do controle, da meta. Há riscos pela agricultura e alimentação, mas já fomos surpreendidos pelo bônus cambial, que não se esperava para este ano. A inflação não vai fugir da meta, da faixa de 4,5%, em relação ao IPC".

De acordo com a FGV, o Índice Nacional dos Custos da Construção (INCC) subiu 0,43%, contra 0,41% em janeiro. Esse indicador tem peso de 10% no IGP-M. O IPA responde por 60% e o IPC, por 30%. (Com Folha News)