Título: Oi preserva caixa e busca empréstimo para investir
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 29/02/2008, Tecnologia & Telecomunicações, p. B2

A Oi (ex-Telemar) deve buscar em bancos a obtenção de empréstimos para elevar a R$ 4 bilhões seus investimentos neste ano, embora não descarte a possibilidade de usar parte dos R$ 6,7 bilhões que tem em caixa para implementar seus projetos. Os desembolsos previstos não incluem potenciais aquisições, afirmou ontem o diretor financeiro e de relações com investidores, José Luís Salazar.

O montante a ser investido representa um acréscimo de 73,9% em relação aos R$ 2,3 bilhões desembolsados no ano passado. Boa parte do aumento está relacionada à expansão da rede de telefonia móvel da operadora.

A busca de outras fontes de recursos para bancar os investimentos é coerente com o plano da Oi de utilizar o dinheiro em caixa para comprar o controle da Brasil Telecom, por algo entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5,2 bilhões. Esse é o modelo mais provável do negócio, segundo fontes a par do assunto.

O que ainda não está claro é se a aquisição será feita via Tele Norte Leste Participações, holding listada em bolsa, que encerrou o ano com o caixa de R$ 6,7 bilhões, ou via Telemar Norte Leste, a empresa operacional, dona de R$ 6,1 bilhões.

Com dívida líquida de apenas R$ 2,7 bilhões, a Oi tem espaço para aumentar sua alavancagem, se necessário, disse o executivo.

Em teleconferência com jornalistas para comentar o resultado do quarto trimestre de 2007, Salazar disse que preferencialmente captará recursos no mercado para financiar os investimentos. Nesse caso, o caixa servirá mais como uma proteção contra crises.

A operadora já conta com uma linha de R$ 2,7 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), obtida no ano passado, para usar até 2009 - ou seja, uma média anual de R$ 900 milhões. Além disso, tem como outro possível financiador o China Development Bank, que atende fornecedores de equipamentos chineses. A Oi contratou sua rede móvel de terceira geração (3G) da chinesa Huawei e da Nokia Siemens.

De acordo com Salazar, o volume de investimentos na região onde a Oi já atua - 16 Estados do Sudeste, Nordeste e Norte - ficará estável na casa dos R$ 2,3 bilhões. Outros R$ 400 milhões serão gastos nos preparativos da companhia para implantar a portabilidade, regra que permitirá aos clientes manter o número de telefone, se mudarem de operadora. E R$ 1,3 bilhão será aplicado na infra-estrutura de celular, tanto na expansão da rede atual como na construção da rede de 3G, na área original de atuação da companhia e também no Estado de São Paulo.

O executivo não revelou detalhes da estratégia para o mercado paulista. Ele disse apenas que as operações terão início no segundo semestre, com foco na venda de chips avulsos para celulares. "Vamos naturalmente disputar clientes já existentes e clientes que vão existir", destacou. Para Salazar, não faz sentido São Paulo, com renda mais elevada, ter teledensidade de 65%, inferior aos 75% registrados no Rio.

A Oi terminou 2007 com 15,9 milhões de assinantes de celular, mais do que os 14,2 milhões de linhas de telefonia fixa em serviço. Em 12 meses, a operadora também registrou expansão de 34,6% no total de acessos de banda larga, que fechou dezembro em 1,5 milhão.

Com base nos números consolidados da Tele Norte Leste, a empresa apurou lucro líquido de R$ 911,5 milhões no quarto trimestre, alta de 48,6% maior sobre o mesmo período de 2006. A melhora no resultado líquido deveu-se à redução das despesas financeiras e com amortizações e depreciações e ao incremento no resultado operacional da unidade de telefonia móvel.

As unidades de celular e banda larga ajudaram a compensar a retração no segmento de telefonia fixa, garantindo um pequeno crescimento de 0,9% na receita líquida, que ficou em R$ 4,5 bilhões no trimestre. No ano todo, a expansão foi um pouco maior, de 4,2%, para R$ 17,6 bilhões. O lucro líquido anual, de quase R$ 2,4 bilhões, foi 80% maior que o de 2006.

Assim como a Telefônica, a Oi mostrou forte retração no faturamento com o tráfego de telefonia local (sem contar a receita com assinaturas). No quarto trimestre, a queda foi de 36,3%. Na concessionária paulista, o recuo foi de 24,9%. (Colaborou Talita Moreira, de São Paulo)